setembro 1, 2024
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Mais de 40% das cidades do Rio têm ao menos um produtor de cachaça

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As marcas cariocas conquistaram prêmios e status. Tem muitos nomes. Nos dicionários, o número de apelidos para a maioria das bebidas brasileiras ultrapassa a marca dos quatrocentos. Uma delas é “Água de Setembro”, uma alusão ao mês em que Dona Luísa de Gusmão (1613-1666), então regente da Coroa Portuguesa, autorizou a produção e venda de cachaça no Brasil colonial — não por acaso meses depois rebelião que eclodiu no Rio de Janeiro e ficou para a história como Revolta da Cachaça (1660-1661). Passados ​​mais de três séculos e meio, a relação do Estado com os bons e velhos espíritos nada mais é do que amor. A alta produção e o compromisso com a qualidade garantem ao Rio lugar de destaque nas gôndolas dos amantes de purinhas. O Anuário da Cachaça 2024, que compila os dados da produção nacional do ano passado, mostra que, em 37 cidades gaúchas, o equivalente a pouco mais de 40% do total, há pelo menos um produtor da bebida. No total, são 65 alambiques que, juntos, fabricam 537 cachaças com um total de 716 rótulos devidamente registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o que torna o estado o terceiro do país em número de marcas e produtos, atrás apenas Minas Gerais e São Paulo. Rio: rótulos premiados O Estado do Rio não está entre os maiores produtores do país em litros ou faturamento, mas faz bem de Sul a Norte de seu território — inclusive arrecadando prêmios em concursos nacionais e internacionais de destilados — quando se trata das chamadas cachaças de alto padrão. — O Rio domina terroirs muito diferentes para a produção de cachaças. Começa no sul do estado, com Paraty, na orla marítima, que está no segmento premium do setor, depois o Vale do Café e a Região Serrana com pequenos produtores muito famosos, especializados em produtos de qualidade. E temos uma região tradicional que é o Norte-Noroeste do estado, que tem produtores muito tradicionais e especiais — explica Vicente Bastos, vice-presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), entidade que representa o setor. Paraty bate recorde Este ano foi especialmente marcante para a produção no Rio de Janeiro. No final de janeiro, a bebida produzida em Paraty, na Costa Verde — cidade cujo nome está entre os 400 apelidos da bebida — recebeu o registro de Denominação de Origem (DO) do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o primeiro concedido a um destilado produzido no país. Entre os aspectos levados em consideração na avaliação do registro estão fatores naturais que vão desde o relevo da Serra do Mar, passando pela quantidade e frequência das chuvas, até as temperaturas relativamente elevadas, que contribuem para que a cana-de-açúcar colhida na região tenha características únicas. . e características ideais para a produção de aguardente. Para além do carácter privilegiado da própria Costa Verde, o DO tem em conta a componente humana na produção, observando o conhecimento empírico que sobrevive há séculos partilhado por gerações de produtores, a gestão manual do cultivo e corte da cana-de-açúcar, a utilização de fertilizantes orgânicos e a forma lenta e gradual de realizar a destilação, seguindo práticas ancestrais e obedecendo a uma regra de ouro: descartar a primeira e a última parte do líquido destilado — chamada de “cabeça” e “cauda” no jargão da atividade — , concentrando a produção na porção mais nobre e pura, o chamado “coração” da cachaça, “contribuindo para a agradável sensação alcoólica da aguardente de cana, favorecendo sua qualidade final”, conforme consta na conclusão do estudo técnico para outorga o registro. O texto destaca ainda as “características sensoriais da bebida de Paraty”. — A conquista é positiva para o Brasil, para o Rio e para as cachaças de qualidade. Elevar a fasquia para todos e comunicar aos consumidores que o país atingiu este patamar — afirma Vicente Bastos. ‘A cachaça corre nas veias’ Em Paraty, existem atualmente seis produtores de cachaça que, juntos, são responsáveis ​​por colocar no mercado 87 rótulos da bebida, o que faz da cidade a quinta com mais marcas vendidas no país. Entre eles está o Coqueiro, produzido desde 1803 pela mesma família. — Sou a quinta geração no ramo. Costumo dizer que a cachaça corre em nossas veias. Temos trabalhado muito na profissionalização. Somos artesanais, mas com cada vez mais profissionalismo. Temos rastreabilidade, o consumidor sabe de onde vem o produto, como é feito — afirma o produtor Marcelo Mello. Presidente da Associação dos Produtores de Cachaça do estado (Apacerj), Katia Alves Espírito Santo acredita que este é um dos maiores gargalos do setor. — Nosso maior problema é a ilegalidade, é uma coisa assustadora em todos os estados do Brasil. No Rio, ouso dizer que, se tivermos 65 produtores legalizados, temos mais que o dobro de produtores não cadastrados, o que é até um problema de saúde, pois ninguém tem controle sobre a qualidade desses produtos — diz Kátia, que tem sido dedica-se a dar continuidade ao trabalho do pai, produzindo a premiada e igualmente centenária Cachaça da Quinta, na cidade do Carmo, região serrana. Bem mais jovem no mercado, a Paratiana — cujo nome não deixa dúvidas sobre sua origem — iniciou suas atividades em 1999. Atualmente investe no envelhecimento da bebida em barris feitos de madeiras nativas brasileiras como jequitibá, amburana e grápia, entre outras. Com produtos que variam de R$ 65 a R$ 700, a marca ganha prêmios. Legalidade preservada Tanto Coqueiro quanto Paratiana comercializam a maior parte de sua produção – 70% a 80% – na própria cidade, um conhecido e popular destino turístico. Ambos se ressentem da concorrência de fotos ilegais. — É comum a confusão entre produtos artesanais e produtos de quintal, que são feitos sem controle e podem até fazer mal à saúde. Somos artesanais sim, mas com total controle de todos os processos. É importante que o consumidor esteja atento a isso — reforça Carlos José Gama Miranda, o Casé, dono da Paratiana. Também localizada na região Sul do estado, mas muito distante do mar, Resende não tem a mesma tradição de Paraty na fabricação de aguardente, mas nos anos 2000 ganhou uma marca que começa a despontar no mercado: Reserva do Nosco, uma das cachaças, assim como a Coqueiro, presente na edição deste ano do Rio Gastronomia. A produção ainda é relativamente pequena – três a quatro mil litros por safra – e administrada pessoalmente por Marcelo Nordskog, que deixou o mercado financeiro para morar na centenária fazenda da família. O nome da cachaça é uma homenagem ao avô norueguês, cujo sobrenome Nordskog virou “Nosco” em terras brasileiras. — A cana é produzida por mim. Também não compro fermento de cana do exterior, seria mais prático e barato, mas prefiro ter o controle — afirma. Outra cidade pouco conhecida pela produção de cachaça no estado apareceu como novidade no Anuário publicado pelo ministério. Duas Barras, na Região Serrana, aparece como a quinta cidade do país com mais marcas registradas do produto: 70. Destas, 53 pertencem à cachaçaria D’Altim. Criada em plena pandemia, a marca já conquistou uma dezena de prémios em concursos nacionais.

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