Seguindo esta linha, cabe agora investigar como o principal agente do sistema financeiro, o Banco Central, tem agido nesta crise climática. Em primeiro lugar, é necessário destacar que os bancos centrais têm desempenhado um papel crucial na economia mundial, principalmente focado na estabilidade financeira e na preservação do valor da moeda.
Historicamente, a principal missão do banco central era garantir a liquidez do sistema bancário, controlar a inflação e actuar como “credor de última instância” durante crises financeiras. Através de ferramentas como a política monetária, o ajustamento das taxas de juro e a regulação bancária, os bancos centrais conseguiram manter a confiança no sistema financeiro e evitar colapsos económicos.
A literatura económica oferece uma base sólida para a compreensão destes desenvolvimentos. Alan Blinder, em seu livro “Banco Central na Teoria e Prática“descreve como os bancos centrais utilizam instrumentos de política monetária para alcançar os seus objectivos tradicionais de estabilidade de preços e estabilidade financeira. Blinder argumenta que a credibilidade e a independência dos bancos centrais são essenciais para o sucesso destas políticas.
No entanto, o papel dos bancos centrais evoluiu significativamente nas últimas décadas, especialmente com a crescente preocupação com a crise climática.
As alterações climáticas representam um risco sistémico que pode afectar todos os aspectos da economia, incluindo a estabilidade financeira. Reconhecendo isto, os bancos centrais começaram a incorporar considerações ambientais nas suas políticas e práticas. Este movimento é impulsionado por uma compreensão crescente de que os riscos climáticos podem desestabilizar os mercados financeiros através de catástrofes naturais.
Mark Carney, antigo governador do Banco de Inglaterra, tem sido uma voz proeminente nesta área, argumentando que os bancos centrais e os reguladores financeiros devem considerar os riscos climáticos como parte da sua supervisão prudencial. Num famoso discurso, Carney introduziu o conceito de “Tragédia de Horizontes”, referindo-se à incapacidade das instituições financeiras de considerar os riscos de longo prazo associados às alterações climáticas.
Os riscos climáticos podem ser divididos em duas categorias principais: riscos físicos e riscos de transição. Os riscos físicos incluem os impactos diretos das alterações climáticas, tais como fenómenos meteorológicos extremos e a subida do nível do mar, que podem causar danos significativos aos ativos e às infraestruturas. Os riscos de transição estão associados às mudanças necessárias para avançar para uma economia de baixo carbono, incluindo políticas governamentais, mudanças tecnológicas e mudanças no comportamento do mercado. Os bancos centrais modernos estão a adoptar regulamentos específicos para mitigar ambos os tipos de riscos, incentivando a transição energética sustentável e promovendo a resiliência aos impactos físicos das alterações climáticas.
No Brasil, o Banco Central tem sido um exemplo notável dessa transição. A Gestão Integrada de Riscos inclui agora riscos sociais, ambientais e climáticos, tanto em termos de transição como físicos. Existem regulamentações que exigem que os bancos adotem uma política de responsabilidade social, ambiental e climática, além de garantir a transparência socioambiental, como evidencia o relatório GRSAC.
Além de ampliar a regulamentação para pressionar os bancos comerciais a adotarem práticas mais sustentáveis, o Banco Central do Brasil tem investido em tecnologia que garante a continuidade dos negócios mesmo em meio ao caos climático. Um exemplo marcante dessa inovação é o sistema de pagamentos instantâneos Pix, lançado durante a pandemia da COVID-19. O Pix não apenas facilita transações financeiras rápidas e seguras, mas também demonstra a capacidade do Banco Central de se adaptar e inovar em resposta às crises.
Em resumo, o Os bancos centrais estão a evoluir de meros guardiões da estabilidade financeira e monetária para se tornarem intervenientes essenciais na luta contra a crise climática. Ao integrar considerações ambientais nas suas políticas e ao promover inovações tecnológicas, conforme demonstrado pelo Banco Central do Brasil, estas instituições estão a moldar um futuro mais sustentável e resiliente para a economia global. A literatura económica recente tem refletido estas novas funções do mercado financeiro e dos bancos centrais, o que reforça a necessidade de um Banco Central independente, que responda às necessidades de longo prazo da sociedade e não aos interesses políticos ou económicos de curto prazo.
Cláudio de Moraes Possui doutorado em Economia com ênfase em Macroeconomia e Finanças. Atua no Banco Central do Brasil na área de estabilidade financeira, com experiência em regulação e supervisão bancária. Especialista bancário, com prêmios na área e artigos publicados em revistas especializadas internacionais. Mantém projeto de pesquisa com pesquisadores da UPB Medellín-Colômbia e é revisor de revistas internacionais. Atualmente participa da coordenação de projetos de mestrado e doutorado que visam discutir soluções para maior eficiência e segurança no sistema financeiro.
A opinião do autor e não representa necessariamente a do Banco Central do Brasil
Claudio de Moraes, professor e pesquisador do COPPEAD — Foto: Divulgação
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