setembro 7, 2024
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Entenda o que levou à demissão de Silvio Almeida: das acusações de assédio sexual à permanência ‘insustentável’

Entenda o que levou à demissão de Silvio Almeida: das acusações de assédio sexual à permanência ‘insustentável’
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A Ministra Esther Dweck assumirá temporariamente a pasta dos Direitos Humanos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu ontem o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, acusado de assediar sexualmente membros do governo. Segundo o Palácio do Planalto, o presidente considerou “insustentável” a permanência da auxiliar ao considerar a natureza da denúncia, que envolve um dos assuntos caros ao petista e seus aliados mais próximos: a proteção das mulheres. Almeida nega as acusações, que chamou de “conclusões absurdas” e disse que provará a sua inocência. Esta é a sexta mudança ministerial desde o início do mandato. Durante reunião com ministros nesta sexta, Anielle disse que foi assediada por Silvio Almeida ‘Ele colocou a mão nas minhas partes íntimas’, diz professora que diz ter sido ‘vítima de violência sexual’ de Silvio Almeida; ver vídeo A Ministra Esther Dweck assumirá interinamente a pasta dos Direitos Humanos, que coordenará com a Administração até que seja definido um novo titular. A posição é cobiçada pelas alas do PT. A saída de Almeida foi anunciada 24 horas depois de a organização Me Too Brasil revelar a existência das denúncias, período durante o qual o governo foi solicitado a tomar medidas. Entre as supostas vítimas de Almeida está a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Lula estava fora de Brasília e pediu primeiro notícias de Almeida, o que só aconteceu ontem, quando ela voltou ao Palácio do Planalto. A demissão, porém, já estava selada. Mais cedo, ao falar sobre o assunto em entrevista, Lula afirmou que “quem pratica assédio não pode permanecer no governo”. O presidente, porém, disse que o auxiliar tem “direito de se defender”. — Não creio que seja possível continuar no governo, porque o governo não fará justiça ao seu discurso de defesa das mulheres e de defesa dos direitos humanos, com alguém que está sendo acusado de assédio — disse o presidente à Rádio Difusora, de Goiânia. A conversa no Palácio do Planalto, que durou 45 minutos, foi dura e Almeida se emocionou, segundo relatos de pessoas que compareceram ao encontro. A postura, porém, não convenceu nem o presidente nem os ministros presentes. ‘Está demitido’ A opção de renunciar foi sugerida a Almeida. “Você não quer renunciar?” Lula teria perguntado. Ele negou e disse que vai mostrar que está sendo injustiçado. Segundo relatos, o presidente então respondeu: “Então você está demitido”. O agora ex-ministro dos Direitos Humanos também afirmou não ter assediado Anielle e disse ao presidente que tinha mensagens e vídeos que provariam a inocência dela. Neste momento, as ministras Cida Gonçalves (Mulheres) e Esther Dwek, que participaram da reunião no gabinete presidencial, defenderam a colega. Almeida argumentou ao presidente que a troca de mensagens mostra o quão bem Anielle o tratou e que, portanto, não houve assédio. Na opinião dos ministros que tiveram acesso ao material, as conversas não são conclusivas sobre a situação. Segundo o site Metrópoles, que revelou a denúncia contra Almeida, o então ministro teria tocado na perna de Anielle em reunião na Esplanada e dado beijos inapropriados ao cumprimentá-la, além de usar palavras sexuais e palavrões. Após anunciar a demissão de Almeida, Lula ligou para Anielle no Planalto. Conforme mostrou o GLOBO, ela já havia confirmado aos ministros que foi uma das vítimas citadas pelo Me Too Brasil. Falando pela primeira vez após a revelação do caso, o ministro disse, em nota, que “não é aceitável relativizar ou reduzir episódios de violência”, que “agir imediatamente é o procedimento correto” e que “contribuirá para investigações, sempre que acionadas”. Antes mesmo da demissão de Almeida, a Polícia Federal abriu inquérito para apurar denúncias de violência sexual. Além disso, a Comissão de Ética da Presidência da República iniciou uma investigação e deu ao agora ex-ministro dez dias úteis para se explicar. Em nota divulgada ontem à noite, Almeida disse que pediu exoneração para dar “liberdade e isenção às investigações”. “Estou mais interessado em provar minha inocência. Que os fatos sejam expostos para que eu possa me defender dentro do processo judicial”, afirmou. Reportagens de 2023 Reportagens sobre um suposto caso de assédio sexual envolvendo Almeida já circulavam no gabinete de Lula há pelo menos um ano. Em meados de 2023, o então titular dos Direitos Humanos foi citado como um dos nomes que poderiam disputar a indicação do presidente para ocupar vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), aberta com a aposentadoria, em setembro, da ministra Rosa Weber . Mas relatos informais de um suposto caso de assédio sexual envolvendo o ministro chegaram ao gabinete de Lula e foram usados, segundo altos membros do governo, como argumento para afastar a possibilidade de Almeida ser escolhido para a Corte. Em entrevista ontem à Rádio Difusora, o presidente disse que tomou conhecimento na quinta-feira de denúncias de assédio sexual envolvendo Silvio Almeida. Segundo ministros, porém, relatos informais das acusações já haviam chegado a Lula e à primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja, há algum tempo. Não foi esclarecido, porém, se a própria Anielle contou a história. Janja publicou uma foto nas redes sociais ao lado do ministro, de quem é amiga, depois que a história veio à tona. A Secretaria de Comunicação Social foi questionada, por e-mail e mensagens de WhatsApp, desde a noite de quinta-feira, se Lula tinha conhecimento das acusações de assédio sexual contra o ministro dos Direitos Humanos. Ele também foi questionado sobre como, quando e de que forma o caso chegou ao presidente. Não houve resposta. O gabinete de Janja, por sua vez, disse que não comentaria. Aplausos e inimizades No final de 2022, o anúncio de Silvio Almeida como Ministro dos Direitos Humanos foi um dos mais elogiados por apoiadores do governo e especialistas do setor. Em seu discurso de posse, o advogado e professor comoveu o público ao destacar o valor dos negros, pobres, indígenas, LGBT+ e mulheres para o país, na tentativa de estabelecer uma posição contrastante com o governo anterior de Jair Bolsonaro. Nos meses seguintes, ocorreram apresentações de planos, eventos midiáticos, confrontos políticos e discursos importantes. Mas, ao mesmo tempo, Almeida sofreu reveses internos e dificuldades na implementação de programas. Como mostrou O GLOBO, no primeiro ano de gestão, o departamento, que tinha o quarto menor orçamento da Esplanada, liberou apenas 56% dos R$ 442 milhões reservados para gastos em 2023. Também acumulou inimizades dentro do governo. Uma das principais lutas políticas de Almeida durante sua gestão foi a recriação da Comissão Especial de Mortes e Desaparecidos Políticos, encerrada durante o governo Bolsonaro. O então ministro defendeu a retomada do grupo, mas resistências nas Forças Armadas impediram o plano no primeiro ano do governo Lula. Há dois meses, seguindo recomendação do MPF, o presidente assinou o decreto que reativou a comissão. Entre as derrotas internas, Almeida viu opiniões de sua pasta serem ignoradas pela Presidência. Uma delas defendeu a inclusão dos “locais religiosos” na lista de estabelecimentos obrigados a seguir o protocolo “Não é Não” para proteção das vítimas de violência doméstica.

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