A adopção de práticas agrícolas regenerativas, que cuidam da saúde do solo, não é necessariamente nova para o agricultor Charles Peeters. Desde que sua família deixou o interior de São Paulo, em 1985, e começou a cultivar grãos em Montividiu (GO), técnicas como o plantio direto, a integração lavoura-pecuária, o uso de culturas de cobertura e o tratamento biológico das plantações tornaram-se cada vez mais populares. viraram rotina nos 1.800 hectares onde são produzidos soja e milho.
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A novidade é que agora esse conjunto de ações será aprovado tecnicamente e recompensado financeiramente pelos compradores da safra de soja que os Peeters plantarão na safra 2024/25. A fazenda fará parte do Reg.Ia, primeiro consórcio de agricultura regenerativa do país, lançado na semana passada em Rio Verde (GO).
O consórcio reuniu Bayer, BRFAgrivalle, Grupo de Pesquisa Associado do Sudoeste Goiano (Gapes), pesquisadores da universidade e da agtech Produtor Certo, que trabalha com adequação socioambiental de propriedades rurais do país e já conta com a sustentabilidade de quase 8 mil fazendas “digitalizadas” em sua plataforma.
O objetivo do Reg.Ia é incentivar a adoção de práticas regenerativas do solo, baseadas em um protocolo “prático e simples” que inclui itens obrigatórios e opcionais para os agricultores. Quem seguir as regras receberá um valor extra pela soja produzida nessas áreas.
Na safra 2024/25, cerca de 30 fazendas de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais adotarão o protocolo, com o cultivo de mais de 50 mil hectares e produção de 200 mil toneladas de soja regenerativo. O item obrigatório é ter planta de cobertura nas parcelas elegíveis neste momento. A semeadura do grão deve ser feita com plantio direto de “qualidade”.
O agricultor deverá optar por pelo menos uma outra prática listada no cardápio Reg.Ia: aplicação de no mínimo 20% de adubo orgânico; pelo menos uma aplicação de pesticida biológico; redução do uso de defensivos químicos (abaixo de 20% da média nacional) e rotação de culturas.
Todas as parcelas serão georreferenciadas e monitoradas com mais de 100 visitas técnicas da Produzindo Certo a partir deste mês, sem custo para os produtores. As fazendas são a base da conformidade legal e sustentável da agtech. Produção regenerativa será um diferencial para os produtores. “Estamos felizes em dar este novo passo para validar e ajudar a moldar este protocolo do que é a agricultura regenerativa”, disse Peeters.
A soja produzida no âmbito do protocolo será adquirida pela BRF e utilizada na alimentação animal. A empresa pagará aos produtores um prêmio mínimo de 2% do valor da saca. O valor será pago à parte, para que o agricultor entenda os recursos extras recebidos.
O diferencial do consórcio é a construção conjunta, disse Aline Locks, presidente da Produzindo Certo. Para ela, o ponto principal foi a definição de um protocolo viável de ser aplicado pelos produtores, legitimado pelas empresas e com a transparência técnica e científica necessária para agregar valor às práticas. “Veremos um impacto significativo na sustentabilidade agrícola na América Latina nos próximos anos”, disse ela.
Quatro protocolos privados foram avaliados para criar o Reg.Ia “Tentamos fazer o mais simples, mas com o máximo impacto”, disse Charton Locks, diretor de operações da agtech.
A Produção Certo coletará solo para avaliar o progresso das práticas adotadas, como o estoque de carbono e a evolução da biodiversidade no solo. Não há meta de impacto, mas o trabalho servirá para nortear os próximos passos. Ferramentas desenvolvidas pela Bayer para medição de carbono serão utilizadas no processo.
“Para compreender o impacto das práticas regenerativas na agricultura tropical é necessário unir forças e considerar ferramentas e modelos que sejam compatíveis com as particularidades da agricultura brasileira, e que sejam operacionalmente viáveis, acessíveis e reconhecidos pelo mercado”, destacou Renata Ferreira , gerente de Novos Negócios Bayer PRO Carbon.
Os produtores receberão um relatório técnico ao final do processo com a comprovação da origem da soja regenerativa. A implementação será acompanhada e validada por um comitê formado por cientistas e pesquisadores acadêmicos, representantes e especialistas das empresas do consórcio.
Os produtores não têm obrigação de usar produtos de empresas participantes do Reg.Ia. Promover a agricultura regenerativa “é um passo fundamental para alcançar resultados sólidos em favor do meio ambiente e das pessoas”, disse Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da BRF e da Marfrig.
Para Max Fernandes, diretor de operações comerciais da Agrivalle, o Reg.Ia “corresponde a tudo o que acreditamos que uma empresa focada no controle biológico deve fazer”.
A intenção é aumentar o número de consorciados, principalmente empresas compradoras do produto final, para aumentar os incentivos pagos aos produtores. O foco está em empresas de bens de consumo, como a indústria alimentícia. Já há planos de levar o consórcio a outros estados brasileiros e até a outros países, como a Argentina. Haverá também inclusão de outras práticas no Reg.Ia.
“O mercado da sustentabilidade não se limita à oferta, mas sim à procura. O produtor pode produzir milhões de hectares de um ano para outro, mas tem que entender se existe mercado interessado em comprar isso”, destacou Charton Locks.
A conselheira do Gapes, Wendy Peeters, disse que a agricultura regenerativa faz parte do DNA do grupo e que quase metade dos protocolos de pesquisa atuais já estão focados no tema.
O jornalista viajou a convite da Produzindo Certo
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