No agro, a esperança é uma péssima estratégia

Entre agosto de 2021 e agosto de 2024, o preço da saca de soja caiu cerca de 26% e o da saca de milho quase 40%. Fala-se muito que o agronegócio brasileiro está em crise, mas é importante avaliar com calma os fatores que nos levam a essa avaliação. É fato que, talvez, o ciclo 2023/24 tenha sido o pior ano-safra da década. Especificamente, o ano civil de 2023 foi extremamente desafiador para todos os players do nosso mercado. Os produtores rurais, os distribuidores de insumos agrícolas e, consequentemente, a indústria, tiveram que olhar para dentro dos seus negócios e recalcular a rota. Saiba mais taboola Nesse cenário, é necessário seguir um cronograma curto para alinhar expectativas e manter uma perspectiva positiva para o futuro. Entre os exercícios de 2021 e 2022, toda a cadeia viveu um momento de grande euforia, em que as margens dos agricultores atingiram picos de 40%, algo completamente fora da curva quando olhamos o agronegócio como um setor que já tinha um histórico de força para a economia brasileira há alguns anos, com alta representatividade no PIB e excelentes resultados registrados nas exportações. No entanto, a pandemia de Covid-19 e as suas consequências, aliadas a factores externos, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, bem como a questões macroeconómicas internas e globais e a fenómenos meteorológicos extremos, surpreenderam todo o sector e, consequentemente, reduziram as margens. da população rural. produtores em níveis bem abaixo da série histórica. Globo Rural Uma forma de tangibilizar esses impactos é avaliar a desvalorização das nossas principais commodities. Entre agosto de 2021 e agosto de 2024, o preço da saca de soja caiu cerca de 26% e o da saca de milho quase 40%, quando analisamos os indicadores Cepea/Esalq Paraná e Esalq/B3, respectivamente (nos últimos tempos , uma queda semelhante só ocorreu entre 2014 e 2016). A disputa entre Rússia e Ucrânia é a ponta de um iceberg que justifica o elevado nível de estoques de fertilizantes acumulados por grandes e pequenos distribuidores em todo o Brasil e que, até hoje, é ponto de atenção nas demonstrações financeiras das empresas. . O aumento da inadimplência entre produtores rurais, bem como os pedidos de recuperação judicial, também se tornaram temas recorrentes no setor. Mas será que devemos ter esperança no que virá daqui para frente, quando já podemos compreender o caminho trilhado e o árduo aprendizado acumulado nesse período? Sempre digo que a esperança, por si só, é uma má estratégia. Os recursos nunca serão suficientes se forem mal geridos. Apenas acreditar no amanhã não nos levará à tão esperada (e necessária) recuperação. A falta de previsibilidade corrói a credibilidade, infelizmente. É necessário planejar e executar com mais eficiência. Para que o agronegócio volte a crescer, é importante alinhar estratégias e entender que o ciclo 2024/25 ainda será de ajustes e margens reduzidas. Contudo, acredito que os efeitos do trabalho construído pela boa gestão já poderão ser sentidos em 2025/26. Leia mais opiniões de especialistas e líderes agrícolas Quando falo em boa gestão, penso em boas práticas simples, que podem (e devem) ser aplicadas a qualquer tipo de empreendimento comercial. Comprar e vender melhor, garantir o melhor mix de produtos, manter um portfólio sólido de fornecedores parceiros e entender as necessidades do cliente final, cada vez mais sofisticado e conhecedor de tecnologia, são regras básicas para qualquer tipo de negócio, seja uma loja de bairro ou grande distribuidora de insumos agrícolas. Vamos substituir a simples esperança pelo trabalho duro, que já é característico e está no DNA do nosso agronegócio desde as suas origens. Agora é a hora de plantar. Colheremos no próximo ciclo. *Ruy Cunha é CEO da Lavoro As ideias e opiniões expressas neste artigo são de exclusiva responsabilidade de seu autor e não representam necessariamente a posição editorial do Globo Rural

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