setembro 5, 2024
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Produtor troca venda de motosserra por lucro com créditos de carbono

Produtor troca venda de motosserra por lucro com créditos de carbono
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Novo modelo de parceria rural prevê o cultivo de árvores nativas sem custo para o proprietário e compensação pelo compromisso de não desmatar. O pecuarista Sadir Schmid migrou do Paraná para a floresta amazônica na década de 1980, vendendo motosserras para derrubar árvores e abrir pastagens, e nos últimos tempos – com solo degradado, baixa produtividade e alto custo da pecuária – houve o dilema de alugar a 666 fazenda de hectares para produção de dendê, em Tomé-Açu (PA). A trajetória do produtor não seria diferente de muitos da região, se não fosse a oportunidade de repor o que foi destruído e buscar o mercado de carbono para garantir aposentadoria e renda às novas gerações da família, sem abrir mão da terra. Veja também: “As expectativas para essa diversificação de receitas são altas”, diz Schmid, com 266 hectares de floresta em recuperação. Na fazenda Três Irmãos, o proprietário faz parte de um novo modelo de parceria rural, em que destina uma área para o cultivo de árvores nativas sem arcar com os custos, se compromete a não desmatar e é remunerado pela distribuição dos lucros da venda de créditos de remoção de carbono. A iniciativa, lançada recentemente pela empresa de restauração florestal Mombak, prevê rendimentos entre R$ 500 e R$ 1 mil por hectare por ano: três a cinco vezes mais que a renda da pecuária de baixa intensidade, predominante na região amazônica. Há também a possibilidade de futuramente explorar recursos não madeireiros, como cacau, castanha, açaí e ingá. Os contratos rendem lucros por até cem anos, com adiantamentos de cinco anos durante o crescimento das árvores. Adotado em áreas de pelo menos 100 hectares, o modelo ajuda a sanar o déficit de reserva legal, comum em fazendas da Amazônia, onde as propriedades localizadas em florestas devem ter entre 50% e 80% de cobertura vegetal nativa. “A parceria com produtores rurais gera resultados maiores do que a compra de áreas aptas para reflorestamento pela empresa e permite capturar a mesma quantidade de carbono com menos capital”, explica Thomas Oldham, CIO da Mombak. No momento, há duas parcerias em operação na Amazônia e cerca de 50 estão em negociação, com o plano de fazer com que o modelo represente dois terços das áreas reflorestadas pela empresa no futuro. “O envolvimento com agricultores que já atuam há muito tempo na região gera segurança para as operações”, argumenta o executivo da empresa. A Mombak possui fazenda própria de carbono no município de Mãe do Rio (PA), onde já plantou 3 milhões de árvores em 3 mil hectares. Este ano, o plano é chegar a 10 mil hectares, incluindo parcerias rurais, com injeção de novos investimentos. Além de US$ 120 milhões de fundos de pensão para atividades iniciais e US$ 36 milhões do Banco Mundial, a empresa teve R$ 160 milhões aprovados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em agosto. Os recursos deverão ser aplicados na região amazônica de maior impacto do desmatamento. “A escala maior é essencial dado o cenário climático”, enfatiza Oldham. O mercado global de créditos de remoção de carbono remove da atmosfera entre 3 milhões e 5 milhões de toneladas por ano, segundo dados da empresa. O aumento das parcerias rurais com grandes explorações agrícolas poderia capturar pelo menos 100 milhões de toneladas de carbono por ano em todo o mundo. Agricultura familiar A demanda atingiu a agricultura familiar. Com atuação no Pará e em outros quatro estados, a startup Belterra, focada na recuperação de áreas degradadas com sistemas agroflorestais, busca recursos no mercado climático para ampliar projetos com pequenos e médios produtores que combinem a produção de cacau, açaí e outros alimentos com recuperação e conservação florestal. A empresa aderiu ao organismo de certificação Verra com o registro de 1,4 milhão de créditos de carbono. “Com as mudanças climáticas, o sistema agroflorestal deverá ser o novo normal na agricultura”, destaca Valmir Ortega, diretor executivo da Belterra. O negócio desenvolveu acordos com produtores, prevendo tanto o arrendamento de parte da área por 15 anos quanto uma parceria rural em que o proprietário entra na terra e recebe insumos e auxílio para ter acesso a crédito ou capital com vistas ao estabelecimento ou expansão de florestas produtivas . Cerca de 400 agricultores participam da parceria e outros 300 deverão se envolver até o final do ano, principalmente na Amazônia, segundo Ortega. “Com a baixa produtividade, os produtores descapitalizados não conseguem recuperar áreas degradadas”, afirma. Há cinco anos, após receber investimento de R$ 12 milhões do Fundo Vale para modelar a estratégia de reflorestar 100 mil hectares no país com impacto social positivo, Belterra idealizou métodos para criar agroflorestas em larga escala e com capacidade de remunerar investidores. Até 2024, a empresa recebeu cerca de R$ 100 milhões de diversos fundos, totalizando 5 mil hectares de agrofloresta, com a meta de atingir o dobro desse valor em 2026.

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