Navegando pelas redes, me deparei com o seguinte depoimento recente em vídeo: “Odeio dizer isso, mas não acho que isso importe tanto quanto as outras pessoas pensam.” O discurso veio do desavisado CEO da JP Morgan Chase, Jamie Dimonao responder uma pergunta CNBC sobre uma possível redução da taxa de juro pela Reserva Federal em Setembro. Para ele, olha, o próprio patamar da alíquota ou uma variação de 0,50 ponto percentual Não faz muita diferença para a economia..
O máximo que pode acontecer, continua ele, “É um efeito psicológico”, com os agentes económicos a reagirem ao que pensaram os diretores dos bancos centrais ao tomarem a decisão. “Mas todos os dias 325 milhões de americanos vão trabalhar, cuidam das suas famílias, dos seus filhos, constroem as suas casas, mudam de emprego… E será isto afectado pelo corte das taxas de juro pela Fed em 0,50 pontos percentuais? eu não acho.”
Como nem todo mundo é Jamie Dimon, no Brasil, assim como nos EUA, a grande discussão do momento é sobre o que Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fará na sua próxima reunião com a taxa básica Selic, hoje em 10,50% ao ano.
Gasta-se muita energia lendo, relendo, discutindo e rediscutindo cada comunicado oficial do BC, bem como o que cada membro da diretoria da agência disse, sinalizou, indicou e considerou.
Cérebros brilhantes dedicados exclusivamente a traduzir “Coponese”E prever o próximo passo de curtíssimo prazo da política monetária. Não porque faça muita diferença se a taxa Selic permanecerá em 10,50%, 11% ou 10% ao ano durante os 42 dias entre a próxima reunião e a próxima, como destacou o presidente do JP Morgan (embora faça diferença se a alíquota for de 5%, 10% ou 15%). Mas pelo efeito psicológico que ele mencionou e também (principalmente, na verdade) porque quem acerta as etapas do Copom antecipadamente ganha muito dinheiro no mercado.
Não há nada de errado com isso. Faz parte do jogo.
Mas é curioso que alguns que defendem que o Copom deveria ser estritamente técnico em todas as suas decisões considerem que um aumento dos juros agora pode nem ser 100% necessário neste momento, dado que a taxa de juros real já está bem acima de 4,75%. . que o BC se diz neutro, mas ainda consideram importante que ocorra aperto monetário com o argumento de que o atual diretor Gabriel Galípolo estaria “comprando credibilidade”, dada a sua nomeação para a presidência do BC, confirmada ontem.
Aqueles que dizem a decisão “depende dos dados”optam por minimizá-los quando surpreendem positivamente, enfatizando o efeito psicológico de ver um presidente do BC nomeado por Lula capaz de elevar a Selic (embora isso já tenha acontecido).
Como razão realmente técnica para a retomada das altas dos juros apenas três meses após a interrupção de um ciclo de flexibilização monetária, está o que o BC gosta de chamar de “expectativas não ancoradas”da inflação.
Em português, o BC está vendo investidores e economistas colocando os números da inflação futura nos preços dos contratos de juros futuros e nas planilhas, para 2025 e 2026, acima da meta de 3% ao ano. E isto incomoda-vos porque, nos vossos modelos econométricos, esta é uma profecia auto-realizável.
Nas próprias contas do BC, se os juros permanecessem estáveis até o início do ano que vem, o IPCA acumulado em 12 meses cairia para 3,2% ao final de março de 2026, o que parecia bom. Mas a autoridade monetária não tem conseguido convencer o mercado a rever as suas projeções, que indicam uma inflação mais próxima dos 4%. Além disso, Galípolo reforçou a matemática ao dizer que 3,2% está “acima da meta”, descartando a hipótese de que o BC esteja calmo com a diferença de apenas 0,2 ponto mesmo num horizonte tão distante.
A grande discussão que o país deveria ter, porém, não é essa. Esta é a resistência da nossa inflação a uma taxa de juro real tão elevada. Aqui, nem o nível da taxa nem o efeito psicológico mencionado por Dimon parecem funcionar bem. Nem outros mecanismos de transmissão da política monetária, como o custo do crédito ou o efeito riqueza, parecem responder.
Entre os motivos para os agentes projetarem inflação futura acima de 3%, vale destacar, está o fato de o IPCA médio de 12 meses no Brasil ter sido 5,76% entre 2004 e 2018quando a meta de inflação era de 4,5%, e depois permaneceu em 5,66% de 2019 a julho de 2024, durante o qual a meta caiu lentamente para os atuais 3%. Ou seja, com meta maior ou menor, pelo menos por enquanto, a inflação real permaneceu igual e acima da meta.
Pode-se até dizer que não há tanto pessimismo quando o IPCA deverá permanecer em 3,73% nos próximos 12 meses. Embora longe da meta de 3%, ainda está muito abaixo do que conseguimos alcançar na prática.
Mas o que alguns agentes nos dizem é que uma taxa de juro real de 6,4% ao ano (que já seria o ponto de partida mais elevado num ciclo de aperto desde 2008) não é suficiente para colocar a inflação, que está um pouco acima dos 4% ao ano. ano, dentro da meta de 3%. As taxas de juros reais teriam de subir para 8% para chegar lá! Isso é anormal.
Muito provavelmente a taxa de juro neutra não é de 4,75% com uma meta de 3%. Mas, de uma forma ou de outra, isso é um problema. E a razão não são apenas os impostos.
Seria bom que pelo menos parte dos cérebros dedicados a traduzir cada palavra dita pelos líderes do BC se dedicasse a decifrar o enigma e ajudar o país a ter uma inflação menos resistente e uma política monetária mais poderosa.
Fernando Torres é editor executivo do Valor
E-mail: fernando.torres@valor.com.br
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