Lançada no ano passado e com regulamentação publicada em junho passado, a Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde espera propostas de projetos entre instituições públicas e empresas privadas — as Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) —, bem como para o Desenvolvimento Local . Programa de Desenvolvimento e Inovação (PDIL), até 23 de setembro. “A pandemia de covid-19 mostrou claramente que a falta de capacidade produtiva em medicamentos e outros itens essenciais cria enormes vulnerabilidades ao sistema de saúde”, destaca o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde do MS, Carlos Gadelha.
Portanto, o objetivo do CEIS é aumentar, em dez anos, de 42% para 70% a produção nacional de insumos e equipamentos adquiridos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, assim, reduzir a dependência externa. Os números comprovam esta necessidade: o défice da balança comercial da saúde saltou, durante a pandemia, de 16 mil milhões de dólares em 2020 para 21,5 mil milhões de dólares em 2021.
Gadelha lembra que as PDPs — uma das vertentes do CEIS e que teve sua primeira versão no segundo governo Lula — possibilitaram a produção nacional de vacinas para a Covid-19, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e no Instituto Butantan, entre outros itens para o SUS. “Temos diversas experiências que permitiram viabilizar parcerias público-privadas para a produção local no Brasil, apoiando o Programa Nacional de Imunizações, o sistema nacional de transplantes e o tratamento de AIDS, doenças negligenciadas, câncer e outras doenças crônicas”, destaca . .
No ano passado, as importações do setor saúde atingiram R$ 22,3 bilhões, sendo 89% das compras externas associadas a produtos de alta ou média-alta intensidade tecnológica, e as exportações totais totalizaram US$ 2,4 bilhões. O resultado foi um saldo negativo de US$ 19,9 bilhões. Cerca de R$ 3 bilhões em recursos federais, em 2023 e 2024, já foram aportados para ampliar a produção de insumos na área, segundo dados do MS.
Essa contribuição trouxe, por exemplo, o desenvolvimento de vacinas com tecnologia de RNA mensageiro pela Fiocruz, soros e maior capacidade de produção no Butantan, entre outros, como a inauguração, em abril passado, da nova fábrica da Empresa Brasileira de Derivados do Sangue e Biotecnologia (Hemobrás), em Pernambuco. “Investir no Complexo Econômico-Industrial da Saúde é investir em um dos setores mais dinâmicos da economia global”, afirma Gadelha. Ele diz que o setor tem “alto potencial” para promover a entrada do Brasil na quarta revolução industrial, a tecnológica.
O envelhecimento da população, considerado um dos maiores desafios produtivos e tecnológicos em saúde, levará a investimentos em medicamentos, artigos médicos e tecnologias digitais para idosos. No âmbito do CEIS, também há prioridade para insumos que auxiliem na prevenção, diagnóstico e tratamento de tuberculose, doença de Chagas, hepatites virais e HIV, além de doenças oncológicas, cardiovasculares, diabetes e imunológicas, dengue, saúde e emergências ortopédicas. trauma.
Para o presidente do conselho de administração da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e Especialidades (Abifina), Odilon Costa, o relançamento do CEIS deverá fortalecer a indústria nacional. Ele destaca que, das importações em 2023, os insumos farmacêuticos ativos (IFAs) representaram US$ 7,2 bilhões; medicamentos, US$ 5,2 bilhões; e vacinas, US$ 1,7 bilhão.
“Com a implementação das PDPs e a produção local de insumos farmacêuticos, o Brasil pode reduzir esses valores”, destaca Costa. No entanto, diz ele, é fundamental ter políticas públicas coordenadas que incluam regulação, política de compras públicas e financiamento. Segundo ele, onze empresas associadas à Abifina possuem PDP.
Segundo o executivo, a iniciativa atual é melhor que a anterior, pois agora “existe uma abordagem mais sistémica às políticas de desenvolvimento”. Costa lembra que, no passado, as PDPs resultaram na produção de antirretrovirais. “O efavirenz é um exemplo”, destaca.
O medicamento foi criado a partir de um consórcio entre três empresas farmacêuticas — Cristália, Globe e Nortec —, com o objetivo de fabricar e fornecer o princípio ativo a um laboratório oficial, Farmanguinhos/Fiocruz, para fabricar o medicamento. Outras parcerias deram origem a novas unidades fabris inauguradas em abril passado. Uma delas, da Bioom, em Minas Gerais, retoma a produção de insulina no Brasil, além de fabricar outros biofármacos.
O projeto, em conjunto com a empresa chinesa Gan&Lee Pharmaceutical Limited, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), inclui a transferência de tecnologia para todas as etapas de produção da insulina . . Bioom e Farmanguinhos/Fiocruz assinaram protocolo de intenções visando cooperação voltada à produção de medicamentos para doenças metabólicas.
No ano passado, o BNDES aprovou mais de R$ 2 bilhões em novas operações para a produção de equipamentos e materiais médicos, hospitalares e odontológicos, itens farmacêuticos e serviços de saúde. Este valor foi 64% superior ao registado em 2022.
Em meados de julho de 2024, as aprovações de crédito de bancos de desenvolvimento apenas para a indústria farmacêutica brasileira atingiram R$ 2 bilhões. É o maior valor desde 1995, superando em 32% o valor de 2023, que fechou em R$ 1,4 bilhão. “Muitos projetos no setor saúde já foram cadastrados, há uma forte demanda do segmento farmacêutico e biofarmacêutico”, destaca o diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Luís Gordon.
Sua expectativa é de aumento nos valores relativos à aprovação de projetos neste ano em relação a 2023. “A saúde é uma das prioridades da política industrial”, lembra. Segundo ele, a demanda por crédito, principalmente para inovação, é impulsionada pelas grandes empresas, “mas também estão chegando as médias empresas”.
Três aprovações de crédito do banco, no âmbito do programa Mais Inovação, em julho passado, ilustram esse apetite. A Eurofarma obteve financiamento de R$ 500 milhões para investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação. No nível farmacêutico, são duzentos projetos focados em inovação radical e incremental e novos genéricos e biossimilares para o mercado brasileiro.
Outros R$ 386 milhões foram aprovados para o Instituto Butantan construir uma nova unidade em São Paulo, que deve operar em 2029. O objetivo é desenvolver e produzir bancos de vírus e células para produtos biológicos, incluindo vacinas e medicamentos, avançando pesquisas relacionadas a monoclonais . anticorpos — medicamentos de alta tecnologia para o tratamento do cancro, da artrite reumatóide, do lúpus, da esclerose múltipla, da psoríase e da doença de Crohn.
E a Braile Biomédica recebeu R$ 21,1 milhões para desenvolver novas soluções em produtos cardiovasculares, como novos modelos da família de aparelhos de circulação extracorpórea. Esses dispositivos substituem temporariamente as funções do coração e dos pulmões durante um procedimento, mantendo a circulação sanguínea e o conteúdo de oxigênio do corpo. A empresa também pretende ampliar a linha de itens na área de implantes minimamente invasivos ou não invasivos.
Para atender às médias empresas, o BNDES lançou em maio passado o programa Fornecedores SUS, com orçamento de R$ 500 milhões, em vigor até junho de 2028: concede crédito associado a uma meta de oferta para o sistema de saúde. Embora possua taxas de mercado, existem prazos e carências diferenciados e simplificação no processo de análise.
Segundo Gordon, trata-se de uma iniciativa dirigida a produtores de máquinas e equipamentos e a dotação orçamental inicial pode aumentar, dependendo da procura. Para atingir o público-alvo do programa, o banco baixou o valor mínimo do crédito de R$ 20 milhões para R$ 10 milhões. “Estamos conectando a demanda do SUS e o financiamento ágil e qualificado a uma estrutura produtiva com capacidade de vender, fechando o ciclo de forma muito inteligente”, enfatiza o executivo.
O Brasil, comenta o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia em Saúde (Abimed), Fernando Silveira Filho, está entre a oitava e a décima posição na economia mundial, mas em termos de inovação ocupa a 45ª posição. Ele defende que, com a estratégia CEIS, o país pode entrar em novas cadeias globais de produção e abastecimento.
Sua expectativa é que a política de saúde industrial não apenas atenda às demandas do SUS, mas também crie condições para atrair capitais de fora, visando investimentos em pesquisa e inovação. “Você não pode ter um foco estreito. E isso já traz outra perspectiva, que é a necessidade de desenvolver o mercado privado também, de forma muito ampla”, afirma o executivo.
No ano passado, o consumo aparente estimado de dispositivos médicos no país atingiu US$ 7,5 bilhões, uma queda de 3,3% em relação a 2022. “O efeito cambial é muito relevante nesse cenário, temos importações e exportações”, observa Silveira Son. As importações totalizaram US$ 4,6 bilhões, com destaque para itens dos segmentos cardiovascular, diagnóstico por imagem, ortopedia, além de produtos e instrumentos ligados à área cirúrgica. As vendas externas foram de US$ 741 milhões.
“Ainda é cedo para falar em 2024, mas a expectativa é que o cenário geral não mude sua dinâmica, ou seja, continuaremos tendo um volume de consumo aparente em torno de US$ 7 bilhões”, diz Silveira Filho.
O CEIS, embora inclua pontos para abordar a inversão da pirâmide demográfica do país, deveria ir mais longe. É o que diz Jorge Félix, professor da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador de pós-doutorado da Unicamp/Fapesp, que destaca a necessidade de estimular a área do cuidado, diante de uma população envelhecida, mudando o perfil das despesas familiares.
“O cuidado é cada vez mais intenso em tecnologia e com produtos importados ou, mesmo quando fabricados aqui, com alto grau de dependência de matéria-prima importada. Isso teve um impacto enorme no orçamento familiar”, diz ela.
Félix lembra que em todos os países onde foi adotada uma estratégia de economia de longevidade (como França, Reino Unido e partes de Espanha), os cuidados fazem parte da política industrial com o mesmo peso que a saúde. Segundo ele, há pouco incentivo para que as startups brasileiras desenvolvam produtos de cuidados que possam ser exportados, como fazem os países europeus e asiáticos.
A nova versão do CEIS, na opinião dos advogados, avança em relação à anterior. “As regras estão muito mais claras agora. Há robustez para realmente estimular a colaboração público-privada”, afirma Renata Rothbarth, head da área de life science & health do Machado Meyer Advogados. Até 2014, ressalta ela, as regras nem previam monitoramento e avaliação das parcerias firmadas. “Agora isso mudou, não só no que diz respeito à efetiva transferência e internalização de tecnologia, mas também no que diz respeito aos preços dos produtos abrangidos pela PDP”, afirma. Ela lembra que, desde 2017, o Tribunal de Contas da União (TCU) acompanha as atuais PDPs e já havia emitido recomendações para que o marco regulatório aplicável às parcerias pudesse ser aprimorado.
Gustavo Swenson Caetano, sócio da área de ciências biológicas e saúde do escritório Mattos Filho, também vê maior detalhamento no processo de transferência de tecnologia, aquisição de produtos e maior controle governamental sobre as PDPs. No entanto, ele cita lacunas, como a precificação da tecnologia. “Acreditamos que em alguns meses será possível avaliar melhor o cenário concreto”, observa.
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O pós Complexo económico e industrial da saúde luta pela independência | Saúde apareceu primeiro no WOW News.