A quinta-feira (22) marcou a interrupção do rali que levou o Ibovespa a bater recorde após recorde, por três dias consecutivos. Mais uma vez, foi a preocupação com as taxas de juros e com a forma como os Bancos Centrais irão lidar com a política monetária no Brasil e nos Estados Unidos que fez com que muitos investidores pisassem no freio. Depois de tantas altas, houve também um movimento de realização de lucros.
- A carteira teórica caiu 0,95%, encerrando o dia nos 135.173 pontos. No mês, ainda subiu 5,89%. No acumulado do ano conseguiu se manter no campo dos ganhos, com 0,74%.
- Nesta quinta, o volume negociado foi menor que nos demais dias da semana, caindo para R$ 15 bilhões, abaixo da média diária de R$ 16,5 bilhões dos últimos 12 meses.
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O ajuste é um fenômeno comum em ativos de risco. Após sucessivas altas, os investidores vendem ações para obter ganhos. Normalmente compram a preços baixos e quando veem saldo positivo se livram do investimento, o que aumenta a pressão de venda (oferta) e derruba o preço dos ativos. Nesse caso, ocorre a chamada “realização de lucros”. Outro motivo de correção é quando o mercado revisa os preços após um momento de certa euforia. E ao reavaliar, você acaba optando por vender (ou comprar, em determinadas situações) os ativos.
Para os mais otimistas, que ainda veem o índice chegando à glória dos 140 mil pontos e além, a queda de hoje se resume a isso. É apenas uma pausa. Coisa temporária. “A recuperação do mercado de ações, na minha opinião, não acabou. Ainda vejo a bolsa como muito barata. O que está acontecendo e vai acontecer é uma correção, que faz parte”, avalia Rodrigo Cohen, analista de investimentos e cofundador da Escola de Investimentos.
Para Jennie Li, estrategista de ações da XP Research, os bons ventos que levaram o Ibovespa ao pico em que se encontra devem continuar soprando a favor da bolsa brasileira. Ela menciona que em breve ocorrerão cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos (EUA), o que atrairá ainda mais investidores estrangeiros. Além disso, os bons resultados do segundo trimestre também contam a favor do mercado acionário.
“A expectativa de 147 mil pontos para o índice até o final do ano permanece, mas o posicionamento ainda é cauteloso, com foco em setores defensivos, dada a volatilidade e os riscos fiscais e políticos internos. a oportunidade de se posicionar em funções de qualidade, sem a necessidade de correr grandes riscos”, afirma.
A questão de interesse lá e aqui
Como pano de fundo está o clima de cautela vindo do exterior. O mercado aguarda pistas um pouco mais concretas sobre o esperado corte de juros nos Estados Unidos em setembro, na próxima reunião do Federal Open Market Committee (Fomc). Neste sábado, o presidente do Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve – Fed) estará no simpósio de Jackson Hole.
“O mercado já está convencido de que haverá corte nos juros em setembro. A dúvida agora é se será um corte de 0,25 ou 0,50, então o mercado está de olho no discurso de Powell para ver se dará alguma pista na condução da política monetária”, diz Bruna Sene, analista de renda variável da Rich .
Os investidores examinarão cada ponto e vírgula do discurso do líder. Esta quinta-feira, alguns diretores do Fed fizeram comentários um pouco mais conservadores, indicando que ainda precisam de mais dados antes de votarem pela redução das taxas de juro.
Em Nova Iorque, os índices também recuaram após ganhos recentes. Um dia antes de ouvir Powell, muitos optam por esperar antes de agir e ir às compras na bolsa de valores. Pelo contrário, a preferência foi justamente pelos ativos de renda fixa, que aumentaram as taxas de juros dos títulos públicos americanos (treasuries).
O clima de aversão ao risco ajudou o dólar a se fortalecer, já que a moeda é vista como reserva de mercado, um ativo de segurança para tempos de incerteza.
- O dólar comercial subiu 2%, atingindo R$ 5,60. No mês, desvalorizou 1,14% frente ao real, mas continua 15,2% mais caro no acumulado do ano.
Para dar aquele empurrãozinho ladeira abaixo, as falas do diretor do BC, Gabriel Galípolo, soaram mal aos ouvidos do mercado. Para quem já via como certo um novo aumento da taxa Selic, o indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva esclareceu que não.
Muito provável que seja o novo presidente do BC após a saída de Roberto Campos Neto da presidência, Galípolo vem tentando mostrar um tom duro de compromisso com o combate à inflação “não importa a quem dê”. Ele também busca pregar a união entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Contudo, a mensagem pretendida nem sempre é a recebida.
No Brasil, a curva seguiu ritmo semelhante à americana, incorporando também incertezas em relação à Selic e à nova gestão do Banco Central (BC) no próximo ano.
- As taxas de Depósito Interbancário (DI) para janeiro de 2025 passaram de 10,75% para 10,84%. Os prêmios em contratos de prazo mais curto estão mais ligados às expectativas dos investidores em relação à Selic;
- Para janeiro de 2034, passaram de 11,46% para 11,62%. Estas taxas mais longas geralmente medem o “risco fiscal”, que é a capacidade do governo de manter as contas públicas atualizadas.
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