A vítima mais jovem tinha 18 anos, enquanto a mais velha tinha 84 anos. O g1 reuniu relatos de amigos e familiares para saber quem eram essas mulheres e quais sonhos ainda não foram realizados. Vítimas de feminicídio em Mato Grosso, entre os meses de janeiro e julho de 2024 Reprodução g1 Lediane Ferro da Silva, Francisca Alves Nascimento e Mayla Rafaela Martins. Esses são alguns dos nomes por trás dos números de mulheres vítimas de feminicídio em Mato Grosso, entre os meses de janeiro e julho de 2024. O feminicídio é um qualificador de homicídio incluído no Código Penal pela Lei nº 13.104. É aplicado em casos de homicídio cometido contra mulheres com base no gênero, seja por discriminação contra a mulher ou por violência doméstica e familiar. A pena é de reclusão de 12 a 30 anos. Segundo a Polícia Civil, 80% dos feminicídios cometidos este ano foram no ambiente doméstico e 55% foram realizados com uso de arma branca. A vítima mais jovem tinha 18 anos, enquanto a mais velha tinha 84 anos (ver lista abaixo). Vítimas de feminicídios em MT Quem são as vítimas Sonhos interrompidos Para evitar que esses crimes sejam reduzidos a apenas estatísticas, o g1 conversou com amigos e familiares de algumas dessas vítimas para contar quem eram essas mulheres e quais sonhos foram interrompidos. É fundamental que as vítimas do feminicídio não sejam esquecidas, pois a memória dessas mulheres é um ato de resistência e uma forma de homenagear as vidas interrompidas. Cada nome e história representa não só a perda de um ser humano, mas também um apelo urgente à mudança Mayla Rafaela Martins, 22 anos. Redes sociais/Reprodução Mayla Rafaela Martins, 22 anos, adorava assistir novelas antigas e tinha um carinho especial pelos animais. Um dos sonhos da jovem era comprar uma casa para a irmã mais nova, pois as duas estavam sempre juntas. Outro sonho de Mayla era morar fora do Brasil. Ela tinha planos de ganhar dinheiro e construir uma nova vida em outro lugar. A expectativa era que o sonho se concretizasse em 2025, mas ela foi assassinada em janeiro deste ano. A jovem foi morta a facadas pelo empresário Jorlan Cristiano Ferreira, 44, que confessou o crime à Polícia Civil. Os dois mantinham um relacionamento extraconjugal, porém, o empresário, que era casado, não aceitou o rompimento e passou a ameaçá-la. O corpo da vítima foi encontrado enrolado em uma piscina infantil, no meio de uma fazenda localizada entre Lucas do Rio Verde e Sorriso, no norte do estado. Jhulia Glezia Souza Neres, 18 anos Reprodução Jhulia Glezia Souza Neres, 18 anos, morava em Guiratinga, a 334 km de Cuiabá. Ela estava no primeiro ano do ensino médio e era descrita como uma garota amorosa e brincalhona. A jovem tinha planos de procurar uma agência quando terminasse os estudos, para seguir o sonho de ser modelo. Jhulia gostava muito de dançar e desenhar. Ela também sonhava em mobiliar a casa onde morava. Jhulia foi morta a facadas depois que seu ex-namorado de 23 anos invadiu sua casa. Segundo a polícia, no momento do crime, o homem começou a sufocar a vítima enquanto questionava se ela havia se envolvido com o irmão dele. Horaide Bueno Stringuini, 84 anos. Reprodução Horaide Bueno Stringuini, 84 anos, era mãe, avó e bisavó gaúcha. Ela era aposentada e morava sozinha em Cuiabá. Ela era uma mulher comunicativa, gostava de tomar chimarrão duas vezes ao dia e uma cerveja de vez em quando. Tinha um amor incomparável pelos netos e seus principais hobbies eram cozinhar para a família e passear pelo centro da capital. A idosa foi encontrada morta dentro da própria casa. O suspeito era funcionário de uma distribuidora vizinha à casa da vítima e confessou o crime. Inicialmente, ele foi indiciado pelos crimes de roubo qualificado, estupro com morte, homicídio qualificado por motivos fúteis – recurso que impossibilitava a defesa da vítima – e feminicídio. Porém, após a mudança na classificação do crime, o homem deixou de ser acusado de feminicídio e passou a ser acusado de roubo. Raquel Cattani foi encontrada morta Reprodução Raquel Cattani, de 26 anos, era filha do deputado estadual Gilberto Cattani (PL). É empreendedora, mãe dedicada e amante da vida no campo. Atuou na produção de queijos artesanais e teve dois produtos premiados na Copa do Mundo de Queijos, de melhor queijo ‘Maringá’ e ‘Nozinho temperado’. Raquel foi morta após ser esfaqueada pelo menos 30 vezes pelo ex-cunhado, Rodrigo Xavier, a mando do ex-marido, Romero Xavier, que não aceitou o fim do relacionamento. Romero é pai dos dois filhos de Raquel – um menino de 6 anos e uma menina de 3 anos. Durante o velório da empresária, ele apareceu muito abalado e permaneceu ao lado do caixão com o pai da vítima. O que diz a polícia Delegada Judá Marcondes comenta padrões nos casos de feminicídio A delegada titular da Delegacia da Mulher de Cuiabá, Judá Marcondes, informou que as taxas de feminicídio em Mato Grosso no primeiro semestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado , aumentaram 5%. Segundo ela, entre todos os casos registrados neste período na capital, nenhuma das vítimas solicitou medidas protetivas contra o suspeito. O número de medidas protetivas em Mato Grosso subiu para 8.859 no primeiro semestre de 2024. O aumento é de 10%, em comparação com o mesmo período do ano anterior, que teve 8.023 medidas registradas. Em 2018, a Lei Maria Da Penha foi alterada, e o descumprimento de medidas protetivas passou a ser crime, punível com pena de 6 meses a 2 anos de prisão. Segundo o delegado, em alguns casos, existem certos tipos de violência que podem preceder o crime de feminicídio, são eles: Violência física Bate ou espanca, empurra Arremessa objetos, sacode Morde ou puxa o cabelo da mulher Mutila ou tortura Usa qualquer arma branca , como faca ou outra ferramenta, além de arma de fogo, para feri-la Violência psicológica Xinga, humilha, ameaça Critica o tempo todo Debocha publicamente, baixa a autoestima Diz que a mulher é louca e tenta controlar tudo que faz Violência sexual Ocorre quando o parceiro (ou ex) obriga a mulher a ter relações sexuais ou quando ela está dormindo ou incapaz de consentir Obriga a mulher a ver imagens pornográficas ou a fazer sexo com outra pessoa Não permite que a mulher evite a gravidez ou mesmo a obriga a faz um aborto Violência patrimonial Quando o homem controla a mulher e seus bens Sonega ou tira dinheiro dela Causa dano intencional a produtos de que ela gosta Destrói, guarda objetos e documentos pessoais, bem como outros bens e direitos Violência moral Quando o homem faz comentários ofensivos na frente de estranhos ou mesmo conhecidos Humilha publicamente e expõe a vida íntima do casal para outras pessoas, inclusive nas redes sociais Acusa publicamente a mulher de cometer crimes, inventa histórias, fala mal dela para outras pessoas com o objetivo de prejudicá-la e diminuí-la Como pedir ajuda? O aplicativo ‘SOS Mulher MT’ é uma das alternativas criadas para ajudar vítimas de violência doméstica em Mato Grosso. O aplicativo conta com um botão de pânico, por meio do qual a vítima pode fazer um pedido de socorro quando o agressor descumprir a medida protetiva. Dados da Polícia Civil indicam que houve aumento de 31% na procura pelo aplicativo no primeiro semestre, com 3.376 downloads. Os pedidos de medidas protetivas com o Botão de Pânico cresceram 9%, com 2.731 solicitações. Interface do aplicativo ‘SOS Mulher MT’ Reprodução O Botão de Pânico virtual está disponível, por enquanto, nas cidades de Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres e Rondonópolis. Nos demais municípios do estado, a plataforma pode ser acessada para outras funções, como orientação online de medidas protetivas, telefones de emergência, endereços de Delegacias da Mulher, plantão 24 horas, denúncias de violência doméstica e também acesso a a Delegacia Virtual para registrar ocorrências. 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