Reformas e construções são oportunidades para reduzir o gasto energético com ar condicionado. Ações simples, como aplicar proteção externa, também podem aliviar o desconforto. Telhado verde em área residencial urbana Adobe Stock Brasil possui dimensões continentais e regiões com climas diversos, mas o calor extremo é comum a muitas delas. Neste mês, a seca histórica e o calor intenso levaram o país a ter quase 200 cidades com umidade igual ou inferior à do Saara. E o que você pode fazer para ter mais conforto térmico diante de tanto calor? É possível usar menos ar condicionado neste cenário alarmante? Com as ondas de calor cada vez mais frequentes, algumas estratégias podem ser eficientes para amenizar a sensação de abafamento nas residências e trazer mais conforto térmico no dia a dia: uso de toldos, vegetação, fachadas duplas com ventilação, cores mais claras nos telhados e paredes externas, telhas sanduíche – que garantem isolamento térmico nas coberturas; cobertura em laje impermeabilizada. Reformas e construções são oportunidades para mudanças estruturais que podem até reduzir o gasto energético com ar condicionado (ou reduzir o calor quando não for possível instalar um desses aparelhos). Uma parede dupla de alvenaria, por exemplo, pode proteger o interior da casa – tanto do calor quanto do frio extremo – permitindo maior estabilidade térmica. Você pode morrer de calor? Médico explica Entenda mais sobre as estratégias para permitir mais conforto térmico nas edificações: Janelas e ventilação noturna Janelas muito pequenas e concentradas em apenas uma parte da residência prejudicam a ventilação cruzada. Além disso, o sol não brilha igual em todas as paredes. Quando você tiver escolha, as aberturas voltadas para o sol da manhã são as melhores. Janelas que possuem grandes lâminas de vidro fixas acabam prejudicando a ventilação. O ideal é optar por janelas que abram mais, tenham boa vedação e, de preferência, evitem ficar voltadas para o oeste (quando pegam sol da tarde). Deixar as janelas abertas à noite ou de manhã cedo pode ajudar a renovar o ar e refrescar o ambiente quando a temperatura não está tão quente. Em locais com calor extremo, manter as janelas fechadas durante o dia pode ajudar. Deixar as portas internas abertas também permite a circulação de ar e promove a ventilação cruzada. Locais mais úmidos precisam de mais ventilação para evitar mofo. Em alguns casos, um sistema de desumidificação artificial pode ajudar a controlar a humidade em espaços mais fechados. Em locais onde o clima é mais frio, o ideal é que as janelas sejam fechadas à noite e logo pela manhã. A ventilação também é importante para garantir o conforto térmico. “Uma fachada dupla não ventilada pode ou não estar ligada a uma fachada interna. Se não estiver conectado já há um ganho, pois não transfere calor para a fachada interna. E se for ventilado, melhor ainda, porque dissipa seu calor para o ambiente e reduz a intensidade do calor que seria transferido para a fachada interna”, explica o arquiteto mineiro Rafael Yanni. Proteção externa: toldos, varandas, beirais, brises e vegetação Toldo utilizado como proteção solar externa em uma edificação garante sombreamento e evita que a radiação solar incida diretamente no ambiente interno Adobe Stock A melhor proteção contra o sol são aqueles colocados externamente à janela, como toldos, pois impedem a entrada de luz solar no ambiente. Como a cortina é interna, o calor acaba entrando na casa. Portanto, a cortina é mais eficiente quando há proteção externa também. A varanda é outra possibilidade de proteção externa. Protege janelas e paredes. Nesses ambientes também podem ser utilizados elementos arquitetônicos chamados de brises, que funcionam como uma espécie de quebra-sol e permitem sombreamento e ventilação da própria varanda. Quando o beiral – espaço da cobertura que pode se estender um pouco além da fachada – consegue sombrear a janela, essa é mais uma forma de garantir conforto térmico em regiões mais quentes. Outra estratégia para permitir sombreamento e diminuir a sensação de calor nas residências – principalmente em áreas urbanas – é evitar pavimentação e investir em vegetação, seja nas fachadas ou nos telhados. “A vegetação é um elemento muito importante. Se você tiver mais árvores, mais sombra, mais vegetação na sua área externa, você também ajudará a criar um microclima ao redor da sua casa e também ajudará a contribuir para o aumento da vegetação na cidade”, argumenta o engenheiro civil, professor e pesquisador Doutora em conforto térmico e eficiência energética pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos (IAU USP) Karin Maria Soares Chvatal. Telhados e paredes externas Telhados e paredes leves absorvem menos radiação solar Adobe Stock Alterar a cor da superfície externa é uma solução mais fácil para muitas pessoas. Os telhados das casas recebem sol o dia todo e têm maior impacto no conforto térmico. Por isso, é recomendado escolher telhados mais leves. E se as paredes forem escuras, o ideal é pintá-las com cores mais claras, que absorvam menos a radiação solar, permitindo que o interior da casa fique menos aquecido. O telhado cerâmico, muito utilizado no país, é melhor que o telhado de laje, mas perde a eficiência de isolamento em situações de calor mais extremo. “O revestimento cerâmico refresca, mas depois de algum tempo não consegue mais cumprir sua função de isolamento. E muito pela falta de ventilação dessa cobertura”, explica a arquiteta Yanni. A chamada cobertura sanduíche – que possui em seu interior uma chapa metálica com isolamento térmico não inflamável – também é altamente recomendada para permitir maior conforto térmico. Além disso, o ideal é que uma laje impermeabilizada seja sombreada, e esse sombreamento pode ser feito de diversas formas, como: bandejas de grama, argila expandida, lajes elevadas de concreto (piso elevado) e deck de madeira ventilado, que também permite a entrada de ar. . renovação no vão entre a madeira e a laje. Fachadas duplas e ventiladas Fachada de vidro ventilado Adobe Stock No momento da construção, quando possível, a aplicação de duas camadas de tijolos com intervalo de aproximadamente 10 cm entre cada camada evita a transferência de calor e frio por condução, do exterior para o fora. ambiente interno. Porém, em regiões muito úmidas, como a Amazônia, essa estratégia de alvenaria de dupla fachada – até pouco utilizada no Brasil – pode favorecer a proliferação de mofo e deve ser evitada. Nestes locais mais quentes e úmidos, o ideal é que as fachadas sejam mais claras, com ventilação e elementos de sombreamento, para proteger da luz solar direta. A espessura total de uma parede dupla de alvenaria seria, por exemplo, em torno de 25 cm no total. Existe ainda a opção de fachadas com vidro duplo, com duas camadas de vidro e um vão entre elas, que funciona como isolamento térmico. Esse espaço entre um vidro e outro pode ser grande o suficiente para permitir a passagem de uma pessoa para realizar a manutenção. Idealmente, as fachadas duplas também devem ser ventiladas. E a distribuição mais equilibrada das janelas ajuda nessa ventilação. O arquiteto Yanni conta que, na prática, viu paredes duplas de alvenaria na fachada permitirem uma diferença de cerca de 5°C de temperatura do exterior para o interior de um edifício. Ventilação no topo dos edifícios Algumas aberturas no topo dos edifícios também podem promover a captação do vento e o chamado “efeito chaminé”, permitindo a subida do ar quente e a descida do ar frio. Estas estratégias têm sido utilizadas há milhares de anos pelos países árabes, por exemplo. No Brasil, uma escola em Timóteo (Minas Gerais) é um exemplo de aplicação desse tipo de estratégia: a Escola Grupo Escolar Vale Verde, projetada pelo arquiteto Éolo Maia e construída em 1984, em Timóteo (Minas Gerais) Imagem cortesia de Jô Vasconcelos Circulação de água por tubulações O uso de água para refrigeração de ambientes não é comum no Brasil, mas pode ser altamente eficaz. Yanni comenta que um museu na Suíça conseguiu reduzir o consumo de energia em mais de 75% ao utilizar bobinas embutidas em paredes de concreto. Um reservatório de água subterrâneo, conectado a um lago de água gelada, permite que a água fria circule nas serpentinas e resfrie o prédio. E a mesma técnica, mas com água quente, pode ser usada para aquecer o prédio. Os tipos de piso não afetam tanto a temperatura interna. Pisos mais frios, como o porcelanato, podem trazer maior sensação de bem-estar, mas não são capazes de alterar a temperatura interna de forma eficiente. Da mesma forma, as cores dos móveis não interferem na sensação de abafamento. Eles simplesmente não podem ficar na frente das janelas de uma forma que dificulte a ventilação. Legislação e normas técnicas brasileiras Yanni destaca que não há grande preocupação no Brasil com o conforto térmico, pois não existem normas técnicas rígidas para a construção e as construtoras acabam preferindo reduzir custos, deixando de utilizar técnicas que trariam mais comodidade e economia. de energia. Ele afirma que a falta de especialização dos profissionais da área no Brasil leva a desperdícios nesse sentido durante reformas e construções. “Já vi o projeto de uma casa com alvenaria dupla justamente para tentar conseguir essa estabilidade térmica – ou seja, reter o excesso de calor que entra no verão e reter o calor interior no inverno – mas com grandes caixilharias de vidro simples , sem qualquer tipo de vidro. de isolamento térmico. Então, a alvenaria ali não adiantou nada. E todo o calor gerado dentro do prédio se perde pela janela e o morador sente muito frio dentro de casa no inverno”, lamenta Yanni. O pesquisador Chvatal acrescenta que a ABNT NBR 15220-3 – norma técnica que trata do desempenho térmico de edificações e estabelece o zoneamento bioclimático brasileiro – está em processo de consulta pública e que o Brasil foi dividido em 12 zonas. As normas técnicas são recomendações e são exigidas por algumas construtoras e alguns sistemas de financiamento imobiliário. Além destes, existem também códigos de construção municipais, mas Chvatal afirma que, em geral, os nossos códigos de construção não têm requisitos que permitam o conforto térmico. “O zoneamento bioclimático brasileiro foi revisado e aprimorado. A ideia é dividir o Brasil em zonas para orientar o projeto arquitetônico. Afinal, os climas têm exigências diferentes. Os climas no Brasil são predominantemente tropicais e subtropicais, mas existem diferenças. O mesmo tipo de estratégia para todos os climas não faz sentido. O projeto arquitetônico deve ser adequado ao clima. Assim você tem mais conforto e também maior economia de energia”, afirma o professor. LEIA TAMBÉM: Por que o calor nos deixa mal-humorados Por que o calor se tornou um problema de saúde mental Por que as ondas de calor podem ser mais prejudiciais para quem tem doenças cardíacas
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