A região central e portuária do Rio passa por uma renovação imobiliária com projetos que envolvem milhares de unidades e reformas de prédios históricos.
Depois da Copa do Mundo e das Olimpíadas de 2016, a capital fluminense passou por anos difíceis. Grandes incorporadoras reduziram sua atuação na cidade, como Cyrela, Tegra e Helbor.
Agora os números estão aumentando e há quem veja espaço para crescimento. Os lançamentos avançaram 35% e as vendas cresceram 12,6% no primeiro semestre, em número de unidades, segundo a Brain Intelligence Estratégica.
A comparação com São Paulo, porém, mostra o quanto é possível avançar. A capital paulista, com 84% mais moradores, lançou 41,4 mil unidades de janeiro a junho, ante 7,7 mil da capital fluminense.
A AZO, incorporadora natural de Campinas (SP), escolheu o Rio para sua primeira expansão geográfica, em 2022. José de Albuquerque, presidente da empresa, diz que olhou mais de 30 oportunidades para desenvolver edifícios em São Paulo, mas nenhuma delas eram “ atraentes”. “É um mercado muito competitivo, é preciso investir muito capital para comprar terrenos, [pagando] em dinheiro, realizar operações de dívida para se alavancar”, afirma.
Trabalhou no Rio durante as quase três décadas que passou na Brookfield Incorporações (hoje Tegra) e revisitou a cidade. “Fui impactado positivamente pelo mercado, compramos terrenos com mais facilidade, parcelado ou com muita troca”, diz, citando que também há menos concorrentes e estoque baixo.
A empresa está reformando um prédio antigo na Gávea e viu a oportunidade de comprar o prédio A Noite da Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (Ccpar), por R$ 36 milhões. O prédio, inaugurado em 1929, abrigou o jornal A Noite e a Rádio Nacional, mas estava fechado há 10 anos. Será convertido em residencial, com 447 estúdios, de 30 m2 a 71 m2. As obras terão início em novembro, com entrega prevista para 2027. O valor geral de vendas (VGV) deverá ser de R$ 250 milhões.
A um quilômetro de distância, o Moinho Fluminense, primeiro moinho de trigo do país, também poderá ser transformado. Desde 2015, foram duas obras de reforma que não avançaram, e em junho foi desapropriado pela prefeitura. Agora, quem está de olho nele é o francês Alex Allard, criador do Cidade Matarazzo, que transformou um antigo hospital de São Paulo em hotel de luxo e espaço de arte.
Allard apresentou ao prefeito Eduardo Paes (PSD) um projeto que prevê a conversão do Moinho em hotel, residência e galeria de arte, segundo o jornal “O Globo”. Procurado por Valoro empresário não quis comentar a proposta neste momento.
A incorporadora Cury está construindo um empreendimento na região central e lançou mais prédios ao lado, na região do Porto Maravilha, que reúne os bairros da Saúde, Santo Cristo e São Cristóvão. Somando as duas áreas, a empresa já lançou 7,5 mil unidades – restam apenas 100 em estoque, afirma o vice-presidente comercial Leonardo Mesquita. Deve colocar mais 800 no mercado em novembro.
A região do Porto é o eixo de crescimento da Cury na região mais central do Rio. Mesquita conta que a empresa demorou três anos para conseguir lançar ali o primeiro projeto, que incluiu conversas com a Caixa e a prefeitura, porque na última década o plano era que a região se tornasse uma zona corporativa, o que não aconteceu. à frente. Ele menciona que a iniciativa de Cury estava alinhada ao Reviver Centro, política da Câmara Municipal do Rio de atrair mais moradores para a região, com benefícios para reforma de prédios e criação de moradias.
Cury é um empreendedor econômico, mas seus projetos na região não são voltados às classes populares. Mesquita afirma que a região portuária “não cabe mais” projetos para as trilhas iniciais do Minha Casa, Minha Vida (MCMV). A boa localização, com bastante transporte público disponível, faz com que os apartamentos só se enquadrem na última faixa do programa (para famílias com renda de R$ 4,4 mil a R$ 8 mil) e além.
A Emccamp, de Minas Gerais, que já construiu projetos para as faixas iniciais do MCMV, também se entusiasmou com a região e viu a oportunidade de construir projetos mais valiosos. A empresa lançou um projeto com 1.500 unidades em 2022, que está 80% vendido. A venda foi mais rápida do que o esperado, diz o diretor financeiro André Avelar, porque as unidades também foram vendidas para a faixa 3 e fora do programa, por R$ 300 mil a R$ 500 mil cada.
A empresa já está prospectando novos terrenos na área. Cury possui lá um banco de terrenos avaliado em R$ 2 bilhões em VGV.
Juntas, Cury, Emccamp e AZO já contam com mais de 10,2 mil novas moradias. Albuquerque afirma que vivem na região cerca de 37 mil pessoas, número que poderá quase dobrar com os novos projetos.
Mesquita afirma que os primeiros moradores de Cury devem chegar em 2025. Para atender esse novo público, tanto a empresa quanto a Emccamp estão construindo negócios nos prédios. Albuquerque, no entanto, ainda considera que lhe falta um “grande centro comercial”. A ideia é que os moradores não precisem se deslocar muito longe.
“Olhando para o Rio, essa região tem uma posição estratégica em termos de localização e infraestrutura”, diz Mesquita, citando o acesso ao VLT, metrô e trem, a proximidade com a rodoviária, os dois aeroportos da cidade e vias importantes, como a Avenida Brasil, Linha Vermelha e ponte Rio-Niterói.
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