O Brasil enfrenta um aumento de incêndios em 2024, cujos efeitos são vistos e sentidos no ar em diversas regiões do país, mas as atuais medidas do governo federal ficam aquém do necessário para enfrentar o problema.
A crise dos incêndios ocorre em meio à pior seca já registrada no país desde o início da atual série histórica, em 1950, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Apesar do aumento orçamentário e estrutural em relação à gestão de Jair Bolsonaro (2018-2022), que levou ao desmonte do setor, as ações do governo Lula (PT) exigem priorização e organização mais robusta do que as apresentadas até agora, além à mobilização de estados, municípios e Congresso, dizem especialistas.
A resposta do Executivo em 2024 foi superior à de 2023, mas a manta de fumaça que cobre os céus de diversas regiões do Brasil é a prova a olho nu de que está longe de ser o ideal.
O desmatamento caiu na Amazônia e parou de crescer no Cerrado, e ações de prevenção foram antecipadas.
Se por um lado o número de brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aumentou de 2.109 para 2.255 entre 2023 e 2024, no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) caiu de 1.415 para 981 – o governo diz que irá repor o défice através de crédito extraordinário.
O primeiro Orçamento proposto por Lula (em 2023, para 2024) cresceu substancialmente em relação ao último apresentado pelo governo Bolsonaro, mas teve parte dele cortado pelo Congresso.
Com forte atuação da bancada ruralista, historicamente contrária aos defensores das bandeiras ambientais, o Congresso reduziu o principal orçamento do Ibama para prevenção e combate a incêndios de R$ 318 milhões para R$ 298 milhões.
Esse valor acabou sendo recuperado ao longo do ano – segundo o Ministério do Meio Ambiente, a aprovação do crédito extraordinário elevou o valor total de R$ 459 milhões em 2023 para R$ 502 milhões em 2024, e houve mais R$ 55 milhões em suplementação -, mas em níveis que se mostraram insuficientes.
Somente em julho o Congresso aprovou o projeto de lei de gestão de incêndios, após seis anos de tramitação e três temporadas de incêndios devastadores. O Congresso também foi responsável por bloquear a implementação, prometida por Lula, da criação de uma autoridade climática, que mantém a gestão ambiental federal descentralizada e muitas vezes sobrecarregada por prioridades de outros departamentos.
Os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), não retornaram após receberem pedidos de posicionamento sobre o assunto.
O próprio presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse à Folha de S.Paulo em junho, no auge dos incêndios no Pantanal, que o Brasil não tem, em caso de incêndio, uma estrutura capaz de responder à crise climática . Entre outros pontos, defendeu a criação de uma frota permanente de aeronaves para combate a incêndios.
O Brasil enfrenta uma situação crítica pelo menos desde junho deste ano. O número de queimadas na Amazônia em agosto foi o maior em 14 anos. Por volta das 10h desta segunda-feira (9), São Paulo apresentava a pior qualidade do ar entre as metrópoles do mundo, segundo o site suíço IQAir.
O governo ainda não tomou medidas para incentivar o aumento das penas para crimes ambientais, apesar do aumento no número de investigações policiais. Até o final de agosto, a Polícia Federal tinha 32 inquéritos abertos, número que saltou para 52 na primeira semana de setembro. A pena para o crime de incêndio hoje é de no máximo oito anos de reclusão.
O Dia do Fogo de 2019 – quando os agricultores se organizaram para queimar a Amazônia simultaneamente – não levou a nenhuma responsabilização e as fazendas foram queimadas novamente nos anos seguintes.
“É hora de usar a força de outros ministérios, porque é um problema de todos. A Casa Civil precisa editar medidas provisórias e decretos; fazendo campanha contra o desmatamento”, diz Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.
“Os alertas estavam lá, e houve até algum preparo do governo, mas talvez esse contexto nos mostre que o tema precisa ser elevado a um nível de prioridade muito maior”, afirma Cristiane Mazzetti, porta-voz do Greenpeace Brasil.
As ONG citam, por exemplo, a necessidade de um plano de prevenção que possa dizer, entre outras coisas, que ações são necessárias, quanto custarão e quanto tempo levarão.
“A resposta melhorou em termos de estrutura e qualidade da intervenção, na compreensão da dimensão do problema. As ações avançaram, mais brigadistas foram contratados e o governo se mobilizou mais este ano. é preciso entender o tamanho da urgência”, afirma Astrini.
Os estados amazônicos ainda não proibiram o uso do fogo, apesar do número recorde de queimadas na região.
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) defende a criação do marco regulatório da emergência climática para dar segurança jurídica e orçamentária às ações de prevenção e mitigação dos efeitos climáticos, mas a medida continua em estudo pelo Planalto, sem definição.
O cientista Carlos Nobre afirma que a gravidade da crise de 2024 não era previsível, mas o governo falhou.
“Desde 2023, o governo melhorou as condições de combate às emergências e catástrofes climáticas, mas a recuperação foi modesta em comparação com o desmantelamento [da gestão anterior]. É preciso investir muito mais na criação de sistemas de adaptação e resiliência”, afirma, citando, por exemplo, o fortalecimento de órgãos como o Cemaden.
Governo diz que há coordenação e investimento
A Casa Civil destaca que o governo contratou este ano cinco novas aeronaves para o Ibama, aumentou o orçamento do Ministério do Meio Ambiente e que trabalha, por meio de salas de situação temporárias, para integrar diferentes departamentos no combate a incêndios e secas.
“O governo trabalha desde 1º de janeiro de 2023 para retomar a política ambiental e climática. Exemplos de coordenação são a recuperação do Comitê Interministerial de Mudanças Climáticas, do Comitê Interministerial de Combate ao Desmatamento, do Fundo Clima e do Fundo Amazônia”, disse o ministério, em nota.
O Ministério do Ambiente afirma que o orçamento do departamento foi reforçado, através de reposições e créditos extraordinários, e que serão contratados mais brigadistas.
O presidente Lula visitará comunidades afetadas pela seca no Amazonas na manhã desta terça-feira (10). À tarde, ele se reunirá com prefeitos e anunciará medidas de combate à seca na Amazônia, na sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
empréstimo pessoal do banco pan
simulador de empréstimo de caixa aposentado
empréstimo consignado para assalariados
O pós Seca e incêndio se espalham com desarticulação do governo Lula, falta de recursos, estrutura e Congresso | O Brasil apareceu primeiro no WOW News.