setembro 10, 2024
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Gestão de fortunas cresce 2,45% no semestre, segundo pior desempenho desde 2020 | Finanças

Gestão de fortunas cresce 2,45% no semestre, segundo pior desempenho desde 2020 | Finanças
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Em meio à reformulação do gestão de patrimôniocom a tributação dos fundos exclusivos fechados ou restritos e a euforia em torno dos títulos de crédito privado isentos, o gestão independente de patrimônio cresceu apenas 2,45% em volume financeiro no primeiro semestre de 2024. É o segundo pior desempenho semestral da série histórica da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), iniciado em 2020. Porém, frente ao desempenho do último semestre de 2023 (0,94%), houve aceleração. Além disso, o número de gestores de primeira viagem não cresceu e passou de 147 em dezembro para 146 agora.

O estoque de ativos em casas de gestão de patrimônio fora dos bancos subiu para R$ 468,95 bilhões em junho de 2024, em ritmo mais lento que o segmento “private banking” (investidores com mais de R$ 5 milhões investidos), que cresceu 3,3% no primeiro semestre em comparação até dezembro de 2023, para R$ 2,2 trilhões. Gabriel Redivo, sócio e diretor-superintendente da Aware Investments, explica que o início da cobrança de “cotas” semestrais em fundos fechados exclusivos ou restritos está levando a uma realocação de recursos, mas ainda em ritmo lento, já que muitos investimentos têm baixa liquidez. Por isso, ele acredita que mudanças mais significativas nos números virão em 2025. “É um movimento que já está acontecendo, mas são estruturas grandes que precisam de tempo para serem repensadas”.

Com a grande procura por títulos de crédito privado, especialmente os isentos de Imposto de Renda, as carteiras administradas tiveram forte crescimento: 5,56% no volume financeiro no semestre, para R$ 152,51 bilhões, em 29.091 instrumentos, um aumento de 13%. Mas, contrariamente às expectativas, os fundos não diminuíram, pelo menos por enquanto. Segundo dados da Anbima, R$ 316,45 bilhões estavam em 4.775 fundos em junho de 2024, alta de 1,01% e 13,80% respectivamente. Muitos gestores optaram até por criar fundos exclusivos com debêntures incentivadas, em vez de carteiras administradas, o que pode ter gerado crescimento.

Richard Ziliotto, presidente do comitê de gestão de patrimônio da Anbima, afirma que os fundos são o veículo que dá maior liberdade na tomada de decisões nos investimentos locais e internacionais, por isso o volume continua representativo, mesmo após os impostos.

“Já vimos migração de fundos para carteiras, mas há perfis de clientes que continuarão com o fundo exclusivo porque precisam de estrutura para o processo sucessório, por exemplo”, explica Redivo, da Aware.

No cenário de Selic em patamar elevado e com perspectivas de voltar a subir, a renda fixa foi o destaque geral no semestre, com alta de 9,5%, para R$ 190,1 bilhões, e participação de 40,5% nas carteiras. Os multimercados continuam encolhendo. A classe híbrida, na qual a Anbima inclui ETFs e ações, caiu 9,15%, para R$ 105,2 bilhões. A participação aumentou de 25,3% para 22,4%. Porém, o volume em ETFs e ações cresceu no semestre (16,3% e 4,1%, respectivamente), o que significa que todas as perdas se concentraram nos multimercados.

A participação em renda variável manteve-se praticamente estável e passou de 34% em dezembro para 33,7% (R$ 157,8 bilhões). Para Ziliotto, a perspectiva inicial de novas quedas nas taxas de juros neste ano, situação que depois foi revertida, pode ter levado ao acúmulo de posições acionárias, que não foram desmanteladas. Além disso, existem fundos fechados exclusivos que foram convertidos em fundos de ações em busca de eficiência tributária, pois não sofrem com ações. “É um segmento que carrega posições. São ativos consolidados que rendem ao longo do tempo, por isso a alocação tende a ser diversificada e movimenta pouco.”

Ele afirma que, com a isenção do Imposto de Renda, a tendência é que os títulos isentos continuem crescendo, principalmente se os juros permanecerem no patamar atual (10,5%) ou voltarem a subir. Ainda segundo dados da Anbima, os fundos de renda fixa e títulos públicos representaram 51,5% do crescimento da classe. E os títulos isentos (CRI, CRA, LCA, LCI, LIG ​​e debêntures incentivadas), por sua vez, cresceram 13,5%.

Embora as debêntures incentivadas sozinhas representem 21,61% da carteira isenta, os instrumentos imobiliários combinados são muito robustos, incluindo as LCIs, que foram sujeitas a alterações pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e tiveram seu prazo mínimo de liquidez ampliado de 90 dias para nove meses. Era esperado que esses títulos perdessem atratividade, mas pelo menos entre os gestores de patrimônio eles continuam tendo apelo, com crescimento de 23,9% no semestre. Os CRIs cresceram 15,3%, mas os LIGs encolheram 4,5%. “O imobiliário tem mais apelo, mas os ligados ao agronegócio também estão isentos e continuarão avançando, pois o setor é o motor de crescimento do país”, comenta.

Ziliotto, que é sócio da gestora Galápagos, também chama a atenção para a expansão dos fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), de R$ 16,9 bilhões para R$ 19,7 bilhões (16,6%), que não recebem desconto de cota. “As mudanças regulatórias feitas pela Comissão de Valores Mobiliários destravaram a busca pelos FIDCs, que é um veículo importante e o terceiro mais captado no semestre. Nos Estados Unidos, a securitização é fundamental no mercado de crédito.”

Redivo, da Aware, lembra que o segmento de gestão de patrimônio está cada vez mais sofisticado, migrando massivamente para a cobrança de taxas fixas, o que mostra maior alinhamento entre os interesses do cliente e do gestor e confere transparência ao relacionamento. Ziliotto afirma que os brasileiros têm uma cultura de forte ligação com os bancos, mas a expansão do mercado financeiro brasileiro e, mais recentemente, a tributação dos fundos exclusivos aumentaram a complexidade da montagem da carteira, e a tendência é buscar ajuda de profissionais qualificados .

O relatório da Anbima também mostra avanços nas regiões do país, concentradas no Norte e Nordeste, dados os esforços dos gestores para se espalharem geograficamente. O volume sob gestão no Nordeste cresceu 15,7%, para R$ 42,1 bilhões, o maior entre as regiões, e no Norte, 13,9%, mas em valores absolutos muito pequenos (R$ 1,8 bilhão). O Sudeste avançou 1,4%, o Centro-Oeste, 1,3%, e o Sul, 0,4%.

— Foto: Unsplash

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