A expansão da rede de metro e comboios urbanos avança, mas a um ritmo lento e com risco de retrocessos, segundo operadores e especialistas do setor. Em 2024, a expansão da rede deverá totalizar 20,8 km, um aumento de 1,8%, segundo levantamento da ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários de Passageiros). Se consideradas todas as obras públicas e privadas em execução ou contratadas, o potencial de expansão chega a 10,6%, mas a previsão é que a conclusão demore pelo menos mais quatro anos, caso não haja atrasos.
As entregas deste ano incluem a conclusão da segunda linha do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) na Baixada Santista; o avião que ligará o aeroporto de Guarulhos (SP) à rede CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos); e a ampliação da Linha 1 do Metrô de Teresina.
“O investimento em ferrovias no Brasil é cíclico, não há estabilidade. Mas acho que hoje vemos uma recuperação, ainda que pequena. No Novo PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] alguns projetos foram escolhidos como prioritários, e o Estado de São Paulo vive um crescimento, que pode não ser grande, mas é constante”, afirma Joubert Flores, presidente da ANPTrilhos.
Além de o país fazer pouco, ainda pode perder a linha da Supervia”
– Sérgio Avelleda
Desde 2014, a rede nacional avançou cerca de 15%. Até 2018, a expansão da rede ocorreu em ritmo mais acelerado, mas depois desacelerou. Em 2021, o tamanho da rede encolheu, devido à desativação de uma linha no subúrbio de Salvador – que daria lugar a um novo monotrilho, mas que ainda não foi implantado.
Hoje, além do problema da lenta expansão, existe a preocupação com o risco de retrocessos em algumas linhas por falta de investimentos, destaca Sérgio Avelleda, coordenador do Centro de Mobilidade Urbana do Arq. Laboratório Futuro de Cidades. O caso mais difícil atualmente é o da Supervia, concessionária que administra linhas na região metropolitana do Rio de Janeiro e que corre o risco de paralisar suas operações. A empresa está em recuperação judicial desde 2021 e atualmente briga com o governo do Rio de Janeiro para obter o reequilíbrio bilionário do contrato.
“Além de o país fazer pouco, também poderá perder um ativo de mais de 200 km, a Supervia. As estradas estão desmanteladas, com troços cada vez mais deteriorados e potencialmente perdendo capacidade operacional. Ativos da CBTU [Companhia Brasileira de Trens Urbanos] em Recife, João Pessoa, Maceió também pioram por falta de investimento público”, diz Avelleda.
Procurada, a Supervia sinaliza que a disputa com o governo do Rio continua aberta. Na segunda-feira (9), após audiência judicial entre governo e empresa, a Justiça determinou que a concessionária apresente “quanto apoio financeiro será necessário para manter a normalidade da operação, a ser realizada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro pelo prazo de 90 dias ou até a conclusão das negociações para a continuidade do serviço ferroviário” e que até o final de setembro as partes deverão comprovar a conclusão das negociações. A CBTU não respondeu.
Para o especialista do Insper, o lento avanço da rede do país é resultado principalmente da escassez de recursos. “São obras caras e temos severas limitações de recursos. O transporte ferroviário compete por recursos com outros setores em que somos deficientes, como saneamento, habitação, logística de carga”, afirma.
Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, observa que além da falta de recursos, há falhas de planejamento e pouca vontade política dos governantes. “Se olharmos para os últimos 30 anos, o progresso é escasso. O planejamento de transportes não prioriza o transporte de massa, prefeituras e estados não têm recursos para isso e fazem paliativos. Há também um fator político, porque um projeto de metrô não começa e termina no mesmo período, raramente é construído em quatro, até oito anos.”
Para Flores, as Parcerias Público-Privadas (PPPs) poderiam impulsionar a expansão da rede. “Há um grande portfólio de projetos, espero que pelo menos alguns deles avancem”, afirma. Hoje, a maior parte dos projetos vem do governo de São Paulo, que após leiloar o Trem Intermunicipal de Campinas, tem outros 13 em estudo. As mais avançadas são as linhas 11-Coral, 12-Sapphire e 13-Jade.
Os especialistas também veem as PPPs como uma forma de acelerar melhorias, mas destacam que há limites. “O exemplo de São Paulo mostra que as parcerias conseguiram mobilizar a expansão em maior ritmo. Mas não é uma panacéia. Na PPP o Estado fornece recursos, e nós temos uma limitação”, afirma Avelleda.
Quintella avalia ainda que mesmo com as concessões o andamento deverá ser lento, pois as obras, mesmo as privadas, historicamente sofrem atrasos e os leilões são espaçados.
Para a ANPTrilhos, a expansão da rede deverá ser a principal alavanca para a retomada de passageiros nos metrôs e trens urbanos. Desde a pandemia, quando o fluxo de usuários do sistema despencou, as operadoras do setor não se recuperaram. No primeiro semestre de 2024, o total de passageiros aumentou 4,4%, em termos homólogos. No entanto, o nível permanece equivalente a 80% do nível pré-pandemia. “Para voltar a ser como era antes, precisaremos de novos passageiros”, afirma Flores.
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