agosto 8, 2024
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Os juros vão subir ainda mais? | Blog do Marcelo d’Agosto

Os juros vão subir ainda mais? | Blog do Marcelo d’Agosto
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Ontem foi divulgada a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). É um documento de difícil leitura, mas no qual os analistas procuram pistas sobre qual será o próximo passo no ajustamento da taxa de juro.

A interpretação dominante é que as chances de novos aumentos na taxa Selic são maiores. Isto apesar da pressão do governo para reduzir as taxas de juros.

A dificuldade de compreensão da ata do Copom é que há muitas sentenças irrelevantes. Tais como “o Comitê focará nos mecanismos de transmissão da situação externa sobre a dinâmica inflacionária interna e seu impacto no cenário prospectivo” ou “o cenário marcado por projeções mais elevadas e mais riscos de inflação mais elevada é desafiador”.

Mas, para ser justo, no passado o documento era muito mais incompreensível. Nos últimos minutos foi possível encontrar declarações muito diretas.

Por exemplo, o documento diz que “há um processo de desinflação no horizonte, mas a projeção para o horizonte relevante está acima da meta de inflação de 3%. No cenário de referência, a projeção de inflação acumulada em quatro trimestres para o primeiro trimestre de 2026 é de 3,4% e, no cenário alternativo, a projeção é de 3,2%.”

O BC adota regime de metas contínuas. Simplificando, significa que o objetivo é que a inflação atinja a meta de 3% ao ano no longo prazo. O que o Copom diz é que, no longo prazo, a projeção para a inflação está acima da meta.

Ainda segundo a ata, “as projeções de inflação do Copom para os anos-calendário, no cenário de referência, são de 4,2% para 2024 e 3,6% para 2025”. Portanto, as projeções de inflação estão acima da meta tanto para os períodos móveis de 12 meses quanto para os anos civis.

Esta chamada “desancoragem” é partilhada pelas projeções dos analistas de mercado. O gráfico abaixo ilustra a evolução das projeções para a inflação 12 meses à frente e para o período de 12 meses a partir do 13º mês. Essas projeções são coletadas de analistas de mercado e divulgadas pelo BC.

Outro ponto que o Copom avalia como preocupante é que “a inflação dos serviços, que tem maior inércia, assume papel preponderante na dinâmica desinflacionária no estágio atual”. Isto significa que é importante monitorizar a evolução dos preços no sector.

O gráfico abaixo compara a evolução do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) com o subgrupo do índice que mede apenas a inflação de preços do setor de serviços (IPCA Serviços). Desde janeiro de 2023, a variação acumulada em 12 meses do IPCA Serviços é superior à do IPCA.

Outra avaliação importante da ata do Copom é que “os fluxos de capitais também refletem um fenômeno global de aversão ao risco, que, dependendo dos fundamentos de cada economia emergente, pressiona a taxa de câmbio com intensidade variada”. A explicação para a preocupação com o câmbio é que um aumento na cotação do dólar poderia ter impacto relevante no IPCA.

O gráfico abaixo mostra a evolução da variação da taxa média de câmbio do dólar comercial nos períodos de 12 meses. Ainda não está claro qual será o impacto desse aumento de 15% entre agosto de 2023 e julho de 2024 nos preços no Brasil.

Objetivamente, a ata do Copom diz que “entre os riscos ascendentes ao cenário inflacionário e às expectativas inflacionárias, destacam-se: (i) uma desancoragem das expectativas inflacionárias por um período mais longo; (ii) maior resiliência da inflação nos serviços do que o esperado devido a um hiato do produto mais estreito; e (iii) uma conjunção de políticas económicas externas e internas que têm um impacto inflacionário, por exemplo, através de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.”

Portanto, as expectativas de inflação dos analistas de mercado, a variação dos indicadores de inflação no setor de serviços e o comportamento da taxa de câmbio são três indicadores fundamentais para manter no radar. Essas são as variáveis ​​que definirão um possível aumento dos juros por parte do BC.

Por outro lado, para o Copom, “entre os riscos descendentes (para o cenário inflacionário), destacam-se: (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais pronunciada do que o projetado; e (ii) os impactos do aperto monetário na desinflação global revelam-se mais fortes do que o esperado.

Por enquanto, continua o Copom, “durante as discussões, todos os membros concordaram que há mais riscos de aumento da inflação, inclusive vários membros enfatizando a assimetria do equilíbrio de riscos”.

Resta saber se os dados sofrerão alterações até a próxima reunião do Copom, marcada para 17 e 18 de setembro.

Marcelo d`Agosto — Foto: Arte sobre Foto

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