Embora difundida, a crioterapia (uso de gelo) pode ter o efeito de alterar e inibir o processo inflamatório natural, o que leva à cura. Mas os médicos não condenam o gelo e dizem que ele reduz o inchaço e permite não atrasar a retomada da mobilidade e da reabilitação. O uso do gelo para lesões divide fisioterapeutas e médicos Adobe Stock O uso do gelo como tratamento após lesões comuns (entorse, pancadas fortes, tendinites) não é consenso entre os profissionais de saúde. O que está em causa, sobretudo, é a aplicação imediatamente após uma pancada para diminuir o inchaço e diminuir a dor, o que é questionado. Mas em casos de dor intolerável, mesmo quem evita o gelo reconhece que ele pode ser usado. O argumento daqueles que são contra seu uso como tratamento é que estudos mostram que o gelo interrompe a inflamação, processo essencial para a recuperação de lesões. No entanto, os especialistas médicos ainda recomendam a aplicação porque o gelo tem outros benefícios. As entidades médicas não possuem orientações gerais contra o uso. Abaixo, neste relatório, entenda os seguintes pontos: 1 – Por que e quem desaconselha o uso de gelo? 2 – Mobilidade, fortalecimento e carga: por que também importam? 3 – Como agir em caso de golpes? O que você pode usar? 4 – Por quanto tempo devemos usar gelo? E a compressa quente? 1 – Por que e quem desaconselha o uso de gelo? A polêmica em torno da crioterapia (uso de gelo) existe tanto nos trabalhos científicos quanto entre os profissionais de saúde. O resultado final é que o gelo inibe o processo de inflamação – essencial para a cura. Mas a maioria das sociedades não tem opinião específica sobre o assunto, como explica o médico André Pedrinelli, que integra a Comissão de Ensino e Treinamento da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e também é presidente eleito da Sociedade Brasileira da Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE). O assunto foi discutido em artigo publicado no site The Conversation Brasil por pesquisadores do curso de fisioterapia e enfermagem da Universidade San Jorge, na Espanha, em março deste ano. O artigo explica que o uso de gelo provoca o estreitamento dos vasos sanguíneos, o que alivia a dor a curto prazo e reduz a inflamação e o inchaço. Porém, a inflamação é um processo fisiológico normal do corpo em recuperação de uma lesão e, para que todo o processo de cicatrização ocorra corretamente, a inflamação deve seguir seu curso fisiológico. A explicação é que tanto o gelo quanto alguns antiinflamatórios modificam o processo inflamatório e promovem processos de má recuperação e fibrose, o que pode fazer com que o tecido não se regenere adequadamente e fique mais suscetível a novas lesões. O texto cita o protocolo denominado PAZ e AMOR, sugerido pelos canadenses Blaise Dubois e Jean-François Esculier em 2019. A novidade do protocolo proposto para tratamento de lesões é a tentativa de evitar medicamentos anti-inflamatórios. O nome do protocolo é uma sigla que significa: proteção (evitar atividades e movimentos que aumentem a dor nos primeiros dias após a lesão); elevação – elevação (elevar o membro lesionado acima do coração sempre que possível); evitar anti-inflamatórios – evitar anti-inflamatórios (evite tomar medicamentos anti-inflamatórios, pois diminuem a cicatrização dos tecidos e evitam o gelo); compressão – compressão (use bandagem elástica ou fita adesiva para diminuir o inchaço); educação – educação (o corpo sabe o que é melhor. Evite tratamentos passivos desnecessários e investigações médicas e deixe a natureza desempenhar o seu papel); carga – carga ideal (deixe a dor guiar seu retorno gradual às atividades normais. Seu corpo lhe dirá quando não for seguro aumentar a carga); otimismo – otimismo (condicionar seu cérebro para uma recuperação ideal sendo confiante e positivo); vascularização – vascularização (escolher atividades cardiovasculares sem dor para aumentar o fluxo sanguíneo e reparar tecidos); exercício – exercício (restaurando mobilidade, força e propriocepção através de uma abordagem ativa de recuperação). As autoras do artigo que destaca e defende a PAZ e o AMOR são as fisioterapeutas espanholas Beatriz Carpallo Porcar e Paula Cordova Alegre, também enfermeira. Ao g1, Beatriz diz que o uso de gelo é generalizado, mas pode ter o efeito de retardar a cicatrização. Ela considera especialmente importante não usar gelo em lesões como entorses, tendinites e outras inflamações. “Até chegar ao hospital, pode ser bom e necessário aplicar gelo para estancar a inflamação, o sangramento e a dor. O profissional de saúde valoriza isso. PAZ E AMOR fala principalmente sobre aquelas lesões comuns, com dores toleráveis. Não é algo rígido e obrigatório. Haverá casos em que será necessária a aplicação de gelo. Mas no dia a dia e no uso doméstico, os antiinflamatórios não são mais a primeira escolha”, afirma. Dr. André Pedrinelli afirma que PAZ E AMOR é um bom protocolo, mas não responde a todas as dúvidas que existem em relação à atividade física. Ele acredita que são necessários mais trabalhos na literatura para ter uma posição mais definida. “A divergência de opiniões é sempre extremamente saudável quando buscamos soluções para tratar doenças. Ter opiniões diferentes e possivelmente até conflitantes não significa briga entre um e outro, mas é o processo evolutivo científico”, comenta. 2 – Por que o uso de gelo ainda é recomendado pela comunidade médica? Mobilidade, fortalecimento e carregamento: por que também importam? O conflito de opiniões quanto ao uso do gelo é percebido entre médicos e fisioterapeutas. Embora não seja recomendado no protocolo mais recente, PAZ E AMOR, os médicos lembram que o uso do gelo também reduz a dor e o inchaço, permitindo que o paciente volte – em menos tempo – a ter mais mobilidade, além de fortalecer os músculos, também importante para a reabilitação. Os médicos também afirmam que o gelo é um analgésico barato e – em muitos casos – acaba eliminando a necessidade de pomadas e sprays, substâncias químicas de baixíssima eficácia. Entre os atletas, o uso do gelo ainda é bastante comum e até feito por iniciativa própria, segundo Tiago Fruges, médico especialista em ortopedia e traumatologia esportiva da USP. A reabilitação e cicatrização do sistema musculoesquelético não dependem apenas da inflamação, segundo o ortopedista e traumatologista Rafael Barban, formado pela USP e médico assistente do Grupo Tornozelo e Pé e do Grupo de Trauma do IOT HC FMUSP e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. “Mobilidade articular, fortalecimento muscular e carga nos membros inferiores são passos importantes para uma reabilitação precoce e completa. Para podermos realizar essas ações, precisamos estar menos inchados e menos doloridos. Há um equilíbrio entre a redução do edema e da dor com o processo inflamatório, mantendo algum grau de inflamação para a cura, mas permitindo – com segurança – iniciar a reabilitação. Portanto, acredito que há espaço para o uso de gelo por curtos períodos, principalmente na fase aguda”, afirma Barban. O médico Tiago Fruges alerta ainda que as lesões são diferentes entre si e, muitas vezes, a cicatrização de uma estrutura ligamentar não corresponde necessariamente, por exemplo, a uma melhor resposta funcional. O médico acrescenta que hoje em dia a prioridade tem sido o retorno mais rápido da mobilidade e do peso ao membro inferior, inclusive no pós-operatório. E hoje, um paciente ferido pode retirar um imobilizador para realizar um trabalho fisioterapêutico e depois substituí-lo. “Deixá-lo engessado, parado, sem se mexer, sem pisar, sem tocar, não é a realidade atual”, afirma. Dr. Tiago destaca ainda que o uso de antiinflamatórios ainda é um tanto controverso. O fisioterapeuta esportivo e educador físico Thiago Menezes Lessa Moreira, coordenador do Departamento de Saúde e Fisioterapeuta do Osasco Voleibol Clube/São Cristóvão Saúde, afirma que é muito incomum um atleta ter problema com gelo. Em casos raros, alguns podem ter alergias. Ele também é a favor de evitar o uso de gelo em situações específicas, como lesões crônicas. O médico André Pedrinelli reconhece que o uso do gelo pode ser um irritante secundário ao tecido nervoso, mas afirma que é muito difícil realizar pesquisas com base científica inquestionável. “Há muitas questões culturais envolvidas também. É muito difícil transferir estudos de laboratório para a vida real. Realmente depende da utilização do gelo em uma determinada articulação”, diz ele. 3 – Como agir em caso de golpes? O que você pode usar? O especialista em joelho Sérgio Costa, mestre em ortopedia pela USP, confirma que alguns estudos já indicaram que o gelo inibe não só a dor, mas também o início do processo inflamatório, essencial para a cicatrização, retardando esse processo. Mas entre a dor e a cicatrização, que pode levar até oito semanas para uma fratura, Dr. Sérgio afirma: “Guardo gelo, o que já é um bom hábito. Eu digo aos meus pacientes: usem sempre gelo e vão ao pronto-socorro para saber o que está acontecendo.” A fisioterapeuta Beatriz explica que, se a dor ou o inchaço não forem excessivos, o que se deve fazer é proteger o local e limpá-lo caso haja alguma lesão. E deixe a natureza seguir seu curso reparando o tecido. Em caso de lesão, ela recomenda seguir os passos do protocolo PAZ E AMOR atual. Sobre o uso de sprays e pomadas, Beatriz afirma que sua eficácia é muito baixa segundo evidências científicas e que podem ser usados para aliviar dores ocasionais, se necessário. 4 – Por quanto tempo devemos usar gelo? E a compressa quente? O uso de gelo não é recomendado na maioria das contraturas musculares (rigidez comum na região lombar ou pescoço) e em lesões onde há um grande ferimento na pele, mas pode ser usado ao redor da ferida para reduzir o inchaço, segundo o Dr. Marina Tommasini Carrara de Sambuy, Ortopedista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo. Para contraturas musculares, o mais utilizado é a compressa quente, que não tem limite de tempo. O ortopedista afirma ainda que o contraste quente e frio pode ser utilizado com bons resultados em alguns casos de lesões crônicas. O uso de gelo é geralmente recomendado pelos médicos em traumas agudos, principalmente em membros superiores e inferiores, por um período de 10 a 15 minutos, em que não há lesões na pele. O médico Rafael Barban alerta que pacientes com problemas vasculares devem ser avaliados com atenção e evitar o uso de gelo, principalmente nas extremidades, como dedos das mãos e dos pés. Como agir em caso de pancadas na cabeça Segundo o presidente da Associação de Neurologistas do Rio de Janeiro (Anerj), é recomendado o uso de gelo em caso de pancadas na cabeça, após o choque, para diminuir a intensidade do choque. reduz o edema, a dor local e reduz a formação de hematomas maiores (o famoso “inchaço”). Isto se deve à ruptura dos vasos sanguíneos locais, que vazam sangue entre a pele e o crânio. “O frio gera vasoconstrição, diminuição do diâmetro dos vasos. Isto reduz o vazamento de sangue de vasos já rompidos. Como resultado, o edema também aumenta. O edema – no caso de traumatismo cranioencefálico leve – não representa risco, mas quanto maior for, pior será o desconforto para o paciente”, explica.
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