Jodie Grinham viajou para Paris quando estava grávida de 28 semanas, adaptou seu treinamento de tiro com arco e se preparou para a chance de entrar em trabalho de parto durante a competição Aos sete meses de seu segundo filho, a britânica Jodie Grinham conquistou o bronze na classe de arco composto aberto e se tornou a primeira mulher grávida subir ao pódio nos Jogos Paraolímpicos. A atleta de 31 anos venceu a compatriota Phoebe Paterson Pine por 142 a 141, em partida emocionante. Jodie estava 2 pontos atrás, mas marcou nove e dois 10 para garantir a medalha. – Eu sabia que conseguiria – disse a britânica, emocionada após pendurar a medalha no pescoço. Jodie Grinham ganha o bronze nas Paraolimpíadas enquanto está grávida de sete meses Getty Images A condição de Jodie fez com que ela atraísse a atenção da mídia internacional e, naturalmente, ela se tornou a favorita dos fãs. Desde o primeiro dia de competições foi convidada para entrevistas e sempre chamada para fotos e autógrafos. – Eu sei que as pessoas já olharam para mim e disseram “querida, você conseguiu, você competiu grávida”, mas eu não queria isso. Eu queria mais. Queria mostrar que não estou aqui para participar quando estou grávida. Estou aqui para competir e ganhar medalhas durante a gravidez. E consegui, o que me deixa muito feliz – disse Jodie. Jodie Grinham ganha o bronze nas Paraolimpíadas quando está grávida de sete meses Getty Images A britânica venceu três corridas disputadas e sofreu apenas uma derrota no caminho para o pódio. Na semifinal, ela perdeu para Oznur Cure Girdi e disse que foi nesse momento que mais sentiu o bebê chutando dentro da barriga. – Eu definitivamente chorei mais do que nunca. A gravidez afetou a preparação de Jodie para os Jogos – e não apenas no aspecto esportivo. Ela também tinha tudo planejado caso entrasse em trabalho de parto durante o torneio de Paris, pois já havia passado por complicações anteriores. Antes e depois do nascimento do seu primeiro filho, Christian, há cerca de dois anos, a britânica sofreu três abortos espontâneos. Em março de 2024, ela foi internada com meningite bacteriana e afastada das competições. + Grávida de 28 semanas, arqueira enfrenta possibilidade de dar à luz durante as Paraolimpíadas A gravidez de Christian também foi difícil para Jodie. A arqueira entrou em trabalho de parto quando tinha 28 semanas, mesma época da gravidez atual. Logo após nascer, o primeiro filho do atleta teve problemas de saúde e foi direto para a incubadora do hospital. O contato com a mãe só aconteceu 10 dias depois. Ainda relembrando experiências passadas, Jodie queria a melhor reta final possível para sua nova gravidez. Assim, embora se sentisse bem com as Paraolimpíadas, ela mapeou maternidades e hospitais em Paris. Ela também conhecia todos os procedimentos para registrar um recém-nascido na França. + Confira o quadro de medalhas das Paraolimpíadas! + Confira a programação das Paraolimpíadas! + Por que o Brasil é uma potência paraolímpica? Esses preparativos estão em andamento desde que Jodie recebeu a notícia de sua gravidez, logo após se recuperar de uma meningite. O atleta fez as contas e percebeu que o nascimento aconteceria bem próximo às Paraolimpíadas. A participação no evento, porém, nunca foi ameaçada, pois conciliar os papéis de mãe e arqueira era um objetivo antigo da britânica. – Com os problemas que tive, eu e meu companheiro não sabíamos se seria possível engravidar novamente. Ela não queria ir aos Jogos no primeiro trimestre (de gravidez), porque o pior que poderia imaginar seria competir com a cabeça em outro lugar (por medo de um aborto espontâneo). Então começamos a tentar bem antes de Paris. Infelizmente, tive muitas complicações que me impediram de vivenciar a gravidez e as Paraolimpíadas separadamente. Mas, se eu tiver os dois juntos, vou mostrar que é possível – comentou ela, em entrevista ao jornal britânico “Telegraph”. Jodie Grinham treina em Paris antes das Paraolimpíadas Alex Davidson / Getty Images Mudanças no dia a dia Entre as adaptações feitas por Jodie na preparação para as Paraolimpíadas, uma estava ligada aos equipamentos que ela utiliza no tiro com arco. A britânica trocou o cinto usado para guardar as flechas. Antes posicionado na altura da barriga, foi alargado e agora está um pouco mais baixo. A atleta também foi monitorada constantemente durante os treinos, por meio de um aparelho que mede sua frequência cardíaca e evita que mãe e bebê fiquem muito estressados durante as atividades. + O que é capacitismo? Entenda como não cair nessa armadilha nas Paraolimpíadas + De 16 a 64 anos: Brasil terá 280 atletas em busca de recordes nas Paraolimpíadas Também foi preciso mudar a rotina. Ao longo de sua carreira como atleta, Jodie se acostumou a passar até 12 horas por dia em pé, devido aos treinos e competições. Tal esforço, porém, torna-se mais difícil durante a gravidez. – Tive que reduzir muito a minha jornada. Se eu quisesse fazer as 12 horas de preparação para o Rio (2016) e a Copa do Mundo, precisaria de um cochilo de duas horas. Curiosamente, isto funcionou bem com o calendário de Paris, que tem uma sessão intermédia, uma depois do almoço e outra à noite. Procurei fazer meus treinos assim também, para que meu corpo ficasse preparado – explicou o atleta. Jodie Grinham na Reprodução da Vila Paraolímpica de Paris Com uma condição chamada braquissindactilia, Jodie apresenta danos na parte superior esquerda do corpo. Ela compete na classe de arco composto aberto, destinada a atletas com deficiência em um membro (inferior ou superior) ou em dois membros (inferior ou superior e inferior do mesmo lado). Jodie está na segunda edição paralímpica da carreira – na primeira, em 2016, saiu do Rio de Janeiro com a medalha de prata nas duplas mistas. Vem também de conquistas no Europeu de 2024, com direito ao ouro na competição individual na sua categoria. A gravidez também nas Olimpíadas Paris tem fama de ser “A Cidade do Amor”, sentimento presente nas relações entre mães e filhos. E a capital parisiense viu outras atletas grávidas competirem recentemente. Nas Olimpíadas de 2024, a esgrimista Nada Hafez, do Egito, chegou às oitavas de final na disputa de sabre individual. Somente após o incidente ela revelou que estava grávida de sete meses e não se sentia sozinha durante as brigas. Nada Hafez, esgrimista egípcia, competiu nas Olimpíadas quando estava grávida de sete meses – Pareciam duas pessoas na pista, mas na verdade eram três: eu, meu adversário e meu bebezinho que ainda não chegou ao nosso mundo . Orgulho que preenche meu ser. Sou três vezes atleta olímpico, mas desta vez foi diferente, carregando um pequeno atleta olímpico. Tivemos nossa cota de desafios, tanto físicos quanto emocionais. A montanha-russa da gravidez é difícil por si só, mas ter que lutar para manter o equilíbrio entre a vida e o esporte foi exaustivo. Valeu a pena – escreveu ela. No tiro com arco, mesma modalidade de Jodie, Yaylagul Ramazanova, do Azerbaijão, chegou às Olimpíadas grávida de seis meses e meio. A atleta também garantiu que recebeu uma ajudinha do filho durante a competição em Paris: – Senti o bebê me chutar antes de atirar uma flecha. Logo depois, tirei 10. Yaylagul Ramazanova grávida nas Olimpíadas de Paris REUTERS/Tingshu Wang
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