setembro 1, 2024
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Em três anos, mais de 3 mil construções ilegais em áreas de tráfico e milícia foram demolidas no Rio

Em três anos, mais de 3 mil construções ilegais em áreas de tráfico e milícia foram demolidas no Rio
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Há duas semanas, um condomínio de 40 prédios construído sem licença no Complexo da Maré foi demolido pela Secretaria de Ordem Pública. da Maré. Foram meses de planejamento até que as autoridades chegassem ao projeto, que fica em uma região dominada pelo Comando Vermelho. As investigações mostram que as construções ilegais se tornaram mais uma fonte de renda do crime organizado, assim como a exploração do sinal de internet, a venda de botijões de gás e galões de água e transportes alternativos. Das 4.697 demolições de apartamentos, casas e lojas realizadas pela prefeitura na cidade desde 2021, 70% foram em áreas controladas por traficantes ou milicianos, o que teria causado um prejuízo de R$ 700 milhões às quadrilhas. Na Zona Oeste: Seop apreende munições de fuzil e 1,6 mil cápsulas usadas em ferro-velho Na Maré: Demolição de condomínio de drogas não tem data para acabar, diz Prefeitura do Rio Cálculo de prejuízos leva em conta fatores como qualidade do material utilizado nas obras e a área construída. Na Maré, o complexo em fase final de construção tem cobertura com piscina e piso de porcelanato, que foi destinado a um traficante. As unidades restantes já estavam sendo vendidas por preços entre R$ 40 mil e R$ 80 mil, ou alugadas por cerca de R$ 1,2 mil. Houve reação de moradores contra a ação, além da suspensão das aulas nas escolas da comunidade, mas os trabalhadores continuaram os trabalhos de demolição com marretas, pois as máquinas não conseguiam chegar facilmente ao local, que é muito adensado. — Esta aparência de “obra acabada” serve para enganar a justiça. Os advogados costumam mostrar fotos das fachadas para confirmar se os prédios estão prontos e ganhar tempo para tentar vendê-los ou alugá-los — disse o secretário municipal de Ordem Pública, Brenno Carnevale. Hoje, liminares impedem a cidade de demolir 14 prédios sem licença. Um deles fica na Rocinha e seria de propriedade de John Wallace Viana, conhecido como Johnny Bravo, traficante da favela. — Os traficantes de droga e as milícias investem nestes edifícios para branquear o dinheiro proveniente da venda de drogas. É uma aposta que o poder público não consegue controlar, apenas limpa o gelo. E ainda há obras clandestinas menores controladas por laranjas — observa o antropólogo e ex-capitão da Polícia Militar do Rio, Paulo Storani, especialista em Segurança Pública. Satélite para monitorar Mais recentemente, as operações na Maré ganharam visibilidade, mas não é um cenário isolado. A Seop não tem estimativa do número de construções irregulares na cidade — em asfalto ou em comunidades — que não podem ser legalizadas, por estarem em áreas de preservação ambiental ou por não se enquadrarem nas exceções previstas na legislação urbanística. Para agilizar o trabalho de identificação dessas obras, a prefeitura pretende utilizar imagens de satélite a partir do próximo ano, o que ajudaria no monitoramento das áreas onde ocorrem irregularidades. Os planeadores urbanos observam que os satélites substituirão um programa que durante alguns anos funcionou bem nas comunidades. Em 1996, a prefeitura lançou os Postos de Orientação Urbana e Social (Pusos), nos quais engenheiros e arquitetos orientavam os moradores sobre como construir seguindo regras estabelecidas para cada favela. No auge, em 2009, eram 66 unidades. Um deles atendia as favelas da Maré e do Caju. — O programa terminou devido à violência. Nenhum arquiteto ou engenheiro quis mais ficar em Pousos. O trabalho deles era dizer não a alguém que não queria seguir as regras. Se o negacionismo já desagrada o asfalto, imaginem as comunidades — disse o ex-secretário municipal de Urbanismo Washington Fajardo. A prefeitura confirma que o projeto está suspenso, em reformulação, e que a violência impede seu funcionamento. Mesmo assim, as demolições afectaram as comunidades. Das cerca de 3,3 mil ações em favelas desde 2021, 511 foram em Manguinhos e Jacarezinho. Em seguida vêm Maré com 374 e Muzema com 255. Em 2022, essa obra passou a ser responsabilidade da Seop. Até então, isso era feito pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. A equipe de Seop que atua nessas operações é enxuta. São cerca de 30 pessoas, incluindo 20 trabalhadores. Mas o grupo nem sempre está completo. Muitos vivem em comunidades e não podem, por razões de segurança, trabalhar perto de casa. A operação é sempre arriscada. Na Maré, mesmo com a presença de policiais monitorando o desmatamento, há fumantes a céu aberto próximo ao condomínio. Em abril, na Ilha da Gigoia, na Barra, o cachorro pitbull de um morador agrediu um promotor que estava de plantão. O animal foi sacrificado. Os especialistas apontam diferentes razões para a expansão desordenada das cidades, mas todos citam que a origem está no déficit habitacional, problema que atinge as grandes cidades. O Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) informou que, de 1º de janeiro de 2021 a junho de 2024, foram lançadas 28,9 mil unidades do programa Minha Casa, Minha Vida no Rio. 312 mil novas moradias. Essa conta inclui o déficit de 220,8 mil casas e unidades para substituir prédios que não têm nem banheiro ou são excessivamente densos (mais de três pessoas por cômodo) — explicou o vice-presidente da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro ( ACRJ). ), George Nader. Investimento em 30 anos Ainda sem ter dados consolidados dos Censos 2022, a associação fez esta estimativa com base num estudo recente da Fundação João Pinheiro. — Não há solução a curto prazo. A ACRJ estima um investimento de R$ 107,7 bilhões em 30 anos, desde que isso seja prioridade para todas as esferas de governo — afirma Nader. Alternativas para o planejamento de favelas foram tema de seminário organizado em julho pelo Conselho Regional de Engenharia (Crea) e pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU). Uma das propostas discutidas foi a integração vertical de parte dos imóveis localizados em comunidades ou em suas periferias. Os governos seriam responsáveis ​​pelas obras. Prédios sem elevador teriam até quatro andares. O presidente do Crea-RJ, Miguel Fernandez y Fernandez, defende a ideia: — O modelo dos últimos anos, que investe fundamentalmente em melhorias de infraestrutura, não foi suficiente para conter o crescimento vertical das comunidades. O tráfico de drogas e as milícias estão se aproveitando disso. Nader lembrou que São Paulo adotou uma iniciativa nesse sentido com o Projeto Cingapura, em que foram construídos prédios em bairros favelados.

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