BCs da América Latina elevam cautela mesmo com Fed mais suave | Finanças

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil manteve a Selic inalterada pelo segundo mês consecutivo, alertando para novos riscos de agravamento da inflação. O banco central do Chile surpreendeu a maioria dos economistas ao interromper o seu ciclo de flexibilização, reiterando que a maior parte da redução já foi feita. E na Colômbia, a autoridade monetária concedeu um corte de 0,50 ponto percentual, mas uma votação dividida indicou resistência.

Entretanto, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o primeiro corte nas taxas dos EUA poderia ocorrer já em setembro, dado o progresso em direção à sua meta de inflação de 2%.

O tão esperado O início dos cortes do Fed deve ajudar os bancos centrais latino-americanos, ao aliviar a pressão sobre a taxa de câmbio. Mas as decisões e declarações de quarta-feira deram o sinal mais forte de que A flexibilização da Fed por si só não será suficiente, dados factores como o aumento dos custos dos serviços e as tensões políticas.

No caso do Fed, “a expectativa para setembro foi totalmente consolidada”, disse Francisco Nobre, economista da XP Investimentos. “Na América Latina, os bancos centrais aumentaram a cautela.”

O Copom, liderado por Roberto Campos Neto, manteve a Selic em 10,5%, numa decisão amplamente esperada. O colegiado disse que há riscos inflacionários nos dois sentidos, mas que o câmbio persistentemente mais fraco, as projeções de inflação acima da meta e os custos dos serviços criam riscos de alta para os preços.

Os líderes chilenos do BC votaram por unanimidade para manter a taxa básica em 5,75%, o que foi previsto por apenas quatro dos 20 analistas em pesquisa da Bloomberg. A autoridade monetária afirmou que os dados recentes do núcleo da inflação, melhores do que o esperado, beneficiaram de factores transitórios.

Na Colômbia, o banco central cortou as taxas de juro em meio ponto percentual, para 10,75%, numa decisão dividida, depois de uma aceleração da inflação ter enfraquecido os argumentos a favor de uma flexibilização mais rápida. O ministro da Fazenda, Ricardo Bonilla, que integra o conselho, disse que o ritmo de aumento dos preços ao consumidor terminará o ano perto de 5,5%, acima da meta de 3%.

As perspectivas para a política monetária no Brasil, Colômbia e Chile podem mudar em setembro se o Fed prosseguir com um corte nas taxas, disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.

“Isso daria aos bancos centrais latino-americanos mais liberdade para calibrar a política monetária”, disse ele. “Mas, em última análise, se for esse o caso, tudo dependerá do comportamento dos mercados cambiais.”

Para complicar ainda mais a situação, os BC enfrentam pressão política de presidentes cada vez mais desesperados para impulsionar o crescimento e, em alguns casos, ações que alimentam diretamente a inflação.

“E ainda há incertezas em relação ao processo de flexibilização monetária nos EUA”, disse Nobre, da XP. “Os mercados estão precificando três cortes este ano, mas isso pode ser otimista.”